I SÉRIE — NÚMERO 42
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Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente:— Tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe para responder.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, agradeço as saudações e
queria dizer-lhe que, de facto, a leitura que fazemos dos resultados das eleições gregas é a de que o povo
grego conseguiu traduzir a revolta social que sentiu numa exigência política de mudança, numa exigência
política de sentido progressista.
Será com muita expectativa e com muito interesse que todos nós acompanharemos a evolução da situação
na Grécia e as repercussões que a posição do novo Governo grego possa ter na União Europeia e junto das
instituições europeias.
De facto, a luta contra estas políticas de austeridade que têm sido impostas na União Europeia ganha força
com os resultados das eleições na Grécia.
A Sr.ª Deputada referiu-se à posição do Primeiro-Ministro português e disse, e bem, que foi mais radical, do
ponto de vista da defesa da austeridade, do que a da própria Sr.ª Merkel. Isso é um facto indiscutível.
O Sr. Primeiro-Ministro assumiu até uma atitude arrogante relativamente à vontade soberana
democraticamente manifestada pelo povo grego, o que nos parece, de facto, inaceitável. O Sr. Primeiro-
Ministro costuma dizer que Portugal, ao ter seguido à risca as indicações e as imposições da troica, ganhou a
confiança dos mercados. Gostaríamos de saber se os governantes estão mais preocupados em ter a
confiança dos mercados ou a confiança dos seus povos, porque aquilo que está a acontecer em Portugal, e
que aconteceu na Grécia até muito recentemente, é que para terem a confiança dos mercados os governos
não hesitaram em sacrificar os seus povos e a condená-los à pobreza,…
O Sr. David Costa (PCP): — Essa é que é essa!
O Sr. António Filipe (PCP): — … como se os mercados não fossem uma criação humana, como se
fossem os mercados que criaram o homem e não o homem que criou os mercados.
A economia existe para as pessoas, para que as pessoas possam ter condições de vida. Não existe para
satisfazer os mercados como se fossem divindades, escondendo que por trás desses ditos mercados estão os
interesses dos mais poderosos, daqueles que querem enriquecer à custa da exploração dos povos e dos
trabalhadores.
Portanto, ter a confiança dos mercados ou ter a confiança dos povos é uma questão que se coloca na
ordem do dia relativamente à situação com que Portugal e os países europeus estão confrontados.
Pela nossa parte, não temos qualquer dúvida de que o que é importante é governar e tomar as medidas
adequadas para que os povos possam viver decentemente, para que as pessoas sejam respeitadas na sua
dignidade e que os direitos dos cidadãos, dos trabalhadores não sejam sacrificados no altar do endeusamento
do mercado, que apenas serve para esconder os interesses inconfessáveis dos mais poderosos.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente:— Conclui-se aqui a primeira declaração política. Passamos à próxima declaração
política, que caberá ao Bloco de Esquerda.
Para o efeito, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O resultado das eleições gregas
não foi apenas o triunfo da esperança, como anunciava o slogan do Syriza, mas um sinal para toda a Europa.
A austeridade como dogma oficial da União Europeia falhou — falhou na resolução da crise; falhou na
proteção de quem mais precisa; falhou na promoção do emprego e na defesa da economia; falhou às pessoas
em toda a linha. Não resolveu nenhum dos problemas a que se propôs como os agravou, gerando a crise
humanitária que hoje se vive na Grécia.
Entre o medo da chantagem das instituições europeias e a esperança, os gregos decidiram. Pela primeira
vez foi eleito um governo que, longe do rotativismo que condenou o país, fez campanha prometendo romper