29 DE JANEIRO DE 2015
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que estes povos têm travado contra essas políticas, que têm conduzido ao empobrecimento e a situações de
verdadeiro desastre social e económico nos países europeus; temos consciência das chantagens, das
ingerências, das pressões que têm sido feitas por parte dos porta-vozes dos representantes dos grandes
interesses económicos e financeiros da União Europeia para que nada mude, para que tudo se mantenha na
mesma; temos consciência, também, da espectativa de mudança que está por detrás não só das lutas que
têm sido travadas pelos povos grego, português e espanhol e por tantos povos do espaço europeu, mas
também, obviamente, perspetivas de mudança que estão por detrás do resultado eleitoral na Grécia.
Também temos consciência da importância da correspondência a essas expectativas que foram criadas e
que, de resto, foram traduzidas pelo povo grego no resultado eleitoral de domingo passado.
Sr.ª Deputada Catarina Martins, temos a perspetiva de que a solução para os problemas gravíssimos que
hoje atingem a generalidade dos povos e dos países da União Europeia exige ruturas com as políticas e as
orientações da União Europeia, que procuram aprofundar este processo de integração capitalista europeu com
todo o rol de desigualdades, de agravamento da exploração, de empobrecimento, de retrocesso social que
impõe às vidas dos povos da Europa, mas exige também a rutura com os mecanismos criados para impor
essas mesmas políticas e impor essas mesmas orientações na União Europeia.
Fazendo uma síntese, que, obviamente, será muito sintética relativamente a tudo aquilo que podíamos
elencar, é necessário romper com as imposições do tratado orçamental, com as imposições do Semestre
Europeu, com as imposições das designadas reformas estruturais que estão por detrás das medidas
recentemente anunciadas pelo BCE relativamente à compra de dívida, que não mais significam do que o
aprofundamento de todas as ditas reformas estruturais que foram sendo feitas, que conduziram ao
desmantelamento dos direitos laborais e ao desmantelamento dos direitos sociais dos povos na Europa.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Portanto, temos consciência de que o caminho de rutura com essas orientações e políticas que procuram
aprofundar o processo de integração capitalista europeu pode corresponder às expectativas e aos anseios não
só do povo grego mas de todos os povos da Europa.
Ao mesmo tempo, há quem venda ilusões de que, no quadro de gestão do sistema capitalista e, em
particular, no quadro da gestão europeia deste bloco capitalista, é possível encontrar meros paliativos ou
remendos que resolvam estes problemas. Nós temos opinião contrária.
Gostávamos de saber qual a perspetiva do Bloco de Esquerda em relação a estas questões,
particularmente no que diz respeito a uma matéria decisiva que já hoje foi aqui levantada, que é a da
renegociação da dívida e a da rutura com as imposições colocadas pelo tratado orçamental e se o Bloco de
Esquerda entende ou não que é possível Portugal trilhar um caminho que corresponda, também, às
expectativas que o povo português tem e que tem traduzido na sua luta.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, agradeço-lhe a sua pergunta.
Na Grécia, houve um ato eleitoral particular, especial, porque cria novas condições políticas não só no
próprio país, mas também na União Europeia. Não estamos perante um processo revolucionário, mas estamos
perante um processo de escolha claro que pode mudar muita coisa.
Na Grécia houve imensas chantagens, como o Sr. Deputado disse, e muito bem, nestas eleições: tivemos
Ângela Merkel, tivemos Comissão Europeia, tivemos BCE, tivemos toda a gente a pôr as mãos na cabeça e a
dizer «os gregos não podem escolher alguém que não quer a austeridade». E tivemos este resultado
extraordinário, que revela quatro aspetos fundamentais.
O primeiro aspeto é o de que é possível um povo escolher contra a chantagem. É possível, na União
Europeia, uma eleição que não seja para a política ser a mesma, mas sim para a política ser outra.