I SÉRIE — NÚMERO 42
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O segundo é o de que pode chegar ao poder e constituir Governo um partido que não esteve
comprometido com nada do que foram estes anos que destruíram os nossos países. Não está comprometido
nem com PPP nem com swaps, não comprou submarinos e não assinou memorandos da troica. É um partido
que esteve sempre do lado da defesa das pessoas e que nunca teve promiscuidade com os interesses
financeiros.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O terceiro aspeto, muito importante, é o de que é possível estar no
Conselho Europeu um Governo que não vai dizer que sim a Ângela Merkel, um Governo que tem um
programa para o seu país, que tem um compromisso para o seu povo e que o está a defender.
O quarto aspeto é o de que as questões que o Governo português… Aliás, na Europa, a direita e também
os socialistas quiseram sempre varrer para debaixo do tapete, mas vão estar agora presentes em todas as
reuniões do Eurogrupo ou do Conselho Europeu. Seja ou não oficial, esteja ou não escrito na ata, estará
sempre em debate o seguinte: queremos continuar com a austeridade ou vamos fazer outra coisa? Vamos
reestruturar as dívidas ou vamos continuar a servir os interesses financeiros?
Há dois campos que se abrem claramente: o de continuar a servir os interesses da finança ou o de
defender as pessoas. E é por isso que é tão importante — porque nenhum país faz o trabalho do outro,
nenhum povo faz o trabalho do outro, ou seja, não se fica à espera do que acontece na Grécia — que em mais
países, como em Portugal, onde estamos e pelo qual temos responsabilidade, devemos ser capazes de ter
força política forte, coerente e capaz.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
E que em Portugal, como na Grécia, se possa dizer que chegou a altura de defender os interesses das
pessoas e de dizer não aos mercados financeiros.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Vitalino Canas.
O Sr. Vitalino Canas (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, começo pelo que é
necessário, que é saudar o Bloco de Esquerda pelo facto de o Syriza ter obtido esta vitória. Todos sabemos, é
factual, que em Portugal é o Bloco de Esquerda que tem reivindicado a cumplicidade, a parceria com o Syriza.
Portanto, felicito também em vós esta vitória na Grécia.
Sr.ª Deputada, queria começar por dizer que devemos reduzir estes acontecimentos ao que eles são. Já
ouvimos há pouco a Sr.ª Deputada Cecília Honório aqui dizer que a Europa mudou no domingo. E a Sr.ª
Deputada Catarina Martins também afirmou: «Virou-se a página na Europa no domingo».
Sr.ª Deputada, houve um acontecimento importante de mudança na Europa, mas ainda não mudámos a
página e a Europa ainda não mudou. Temos, aliás, de ser modestos e humildes: não é um único país ou um
único líder que será capaz de mudar a Europa; somos todos nós que o temos de fazer. Não é apenas uma
eleição na Grécia, ou em Portugal, ou na Alemanha, ou na Inglaterra que vai mudar a Europa. O que a vai
mudar somos todos nós, quando regressarmos aos valores essenciais e fundamentais da Europa, quando
regressarmos à solidariedade e à coesão, que foi o que a Europa fez no passado e que é o que deverá
continuar a fazer.
Portanto, é este pragmatismo que temos de ter todos e não começar a pensar que vêm aí homens ou
partidos providenciais.
A Europa vai mudar, sim, e vai mudar com a ajuda de Portugal e com a ajuda do Partido Socialista, que,
desde há muito tempo, tem um projeto de mudança para Portugal e para a Europa. Defendemos políticas anti
austeridade e defendemos evolução na Europa e temos um projeto de mudança que merecerá a confiança
dos portugueses. É isso que irá também contribuir para que a Europa venha a mudar.
Por isso, Sr.ª Deputada Catarina Martins, saúdo, naturalmente, a evolução na Grécia, mas essa evolução
ainda vai ter de produzir resultados. Para que isso aconteça tem de haver moderação e tem de haver