29 DE JANEIRO DE 2015
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com o garrote da austeridade e com as inevitabilidades impostas por Berlim e Bruxelas, como se fossem
religião de Estado.
O sinal dado por milhões de gregos no domingo convoca-nos a todos, de Berlim a Madrid, de Helsínquia a
Roma ou a Portugal, para os limites da austeridade como dogma oficial da União Europeia.
O resultado do Syriza — o Primeiro-Ministro português não sabe, mas o partido que ganhou as eleições na
Grécia tem nome: Syriza — coloca também a questão da dívida no centro da agenda política europeia.
Mas antes do debate propriamente dito, a forma inusitada e diplomaticamente insultuosa como o Primeiro-
Ministro comentou os resultados eleitorais de um país da União Europeia não pode passar em claro.
Entendamo-nos: a última coisa que Passos Coelho — que prometeu em campanha não subir impostos e
garantiu ser mentira que quisesse descer salários e cortar subsídios de férias —, repito, a última coisa que
Passos Coelho pode dizer é que os eleitores de um qualquer país acreditaram num conto de crianças.
A Sr.ª HelenaPinto (BE): — Muito bem!
A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Compreendemos, no entanto, o incómodo do Governo português perante
quem, um dia depois de tomar posse, já cumpriu mais promessas eleitorais do que o PSD e o CDS em quase
quatro anos.
Aplausos do BE.
«Conto de crianças», para usar a expressão de Passos Coelho, tem sido a doutrina seguida pelas
instituições europeias e pelo FMI para resolver a crise. Como diz o novo Ministro das Finanças grego, injetar o
maior empréstimo da história num país amarrado como contrapartida a um plano que o fez perder 25% da
riqueza é uma verdadeira tortura orçamental.
Antes da intervenção da troica, a Grécia devia 107% do PIB, seis anos e um perdão da dívida depois deve
180%; um em cada quatro gregos está desempregado; um em cada cinco gregos vive na pobreza extrema; a
taxa de mortalidade infantil subiu 43%; 300 000 gregos não têm — ou, melhor, não tinham — luz em casa.
Insistir, contra tudo e contra todos, no avanço da austeridade que está a atirar a Grécia, como está a atirar
Portugal, para o abismo e a periferia do euro para o empobrecimento põe em causa a democracia e a Europa.
Dizem-nos que a Grécia solicitou a ajuda internacional e que, agora, terá de continuar a honrar o que
assinou. Mas, e pelo falhanço estrondoso do programa da troica, ninguém assume responsabilidades?
Os compromissos devem ser respeitados, certo, mas quando é evidente que estão a destruir a economia e
a tornar impossível o seu cumprimento, a obrigação moral de qualquer governo é tudo fazer para os
renegociar. É essa coragem para o confronto necessário, com a convicção de que a Alemanha não cede até
ceder, que saiu das eleições de domingo.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados, depois da chantagem inicial de Bruxelas, do FMI e
de Berlim, as vozes na Europa começam a mudar. O Governo irlandês mostra-se recetivo a uma conferência
internacional da dívida, como propõe o Syriza, e não é o único que começa a dar sinais tímidos de que é
preciso mesmo falar daquilo que é urgente.
As eleições gregas marcaram, por isso, um virar de página na Europa. Um governo não-alinhado com a
doutrina «austeritária» ganhou as eleições. É este momento de mudança que os governos europeus terão de
entender.
Hoje, na Europa, há dois campos: o de quem quer continuar a austeridade ou a debater as formas e a
dosagem da mesma e o de quem quer reestruturar as dívidas para libertar os recursos, para promover o
emprego e o crescimento económico.
Depois do resultado de domingo e do mais recente programa do BCE, o debate sobre o fim da austeridade
e a renegociação da dívida ficou no centro da política europeia. A resposta tardia, é certo, do BCE protege a
estabilidade das taxas de juro atuais, mas não responde ao peso da dívida acumulada e que é impagável em
países como Portugal ou Grécia. O BCE pode responder pela estabilidade dos juros, mas só estímulos