29 DE JANEIRO DE 2015
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na zona euro e a que chegaram países como Portugal, e que foram da responsabilidade de políticas impostas
ao nosso País — e aceites pelos partidos que têm governado em Portugal —, assumam a sua quota-parte de
responsabilidade. Chegou-se a uma situação, que, aliás, é discutida não apenas na Europa, mas também em
outros países onde questões do endividamento soberano também se colocam, em que é necessário encontrar
uma assunção de responsabilidades por quem também induziu ao endividamento destes países, para que
assumam a sua quota parte de responsabilidade.
A renegociação da dívida é uma manifestação de intenção de quem quer pagar e de quem reivindica, justa
e razoavelmente, a criação de condições para poder pagar e não ter de sujeitar os respetivos povos a
situações humilhantes e indignas de subdesenvolvimento e de carência dos mais elementares bens
necessários a uma vida digna.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — A questão com que devemos confrontar as instituições e todos os países
europeus é a de saber que Europa querem. Querem uma Europa dividida entre a Europa rica, que vive à custa
da exploração dos países periféricos, e uma Europa pobre ou querem uma Europa de coesão económica e
social e de cooperação entre os vários povos?
Aqui a renegociação da dívida é uma questão essencial que precisa de uma resposta a nível europeu, a
nível das instituições internacionais, mas para isso tem de haver uma exigência muito firme, séria e
responsável por parte dos países que são vítimas de situações de sobre-endividamento, como é o caso de
Portugal.
Portanto, entendemos que a questão em Portugal não pode deixar de ser colocada e pensamos também
que a posição do novo Governo grego é um passo muito positivo para que esta ideia da renegociação da
dívida dos países da União Europeia também possa ser colocada na ordem do dia das instituições europeias.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente:— A próxima pergunta é do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, começo por saudá-lo por
todas as boas razões, hoje, e particularmente pela sua declaração política.
Bem sabemos que Portugal não é a Grécia, mas não podemos ignorar que a Europa mudou no passado
domingo, que o povo grego teve a coragem de enfrentar o diretório alemão, que teve a coragem de dizer
«basta de austeridade, nós não aguentamos mais» e que teve a coragem, com a escolha política que fez, de
inscrever a reestruturação da dívida na agenda política da Europa. A Europa mudou no passado domingo.
Sr. Deputado António Filipe, face ao reconhecimento desta mudança, considera correta a reação do
Governo português, nomeadamente as palavras do Sr. Primeiro-Ministro? Reação que poderíamos classificar,
talvez, de infantil, se ela própria não fosse das mais radicais declarações face às declarações conhecidas dos
diferentes chefes de Estado da Europa relativamente à vitória do Syriza.
Disse o Sr. Primeiro-Ministro que renegociar a dívida é uma «coisa de contos para crianças». Diríamos nós
que o Sr. Primeiro-Ministro foi mais alemão que a Sr.ª Merkel nestas declarações e teríamos a tentação até de
perguntar se relativamente à obsessão deste Governo com as políticas de austeridade, se a obsessão deste
Governo em pagar uma dívida que não é pagável e que está hoje perto dos 130%, se o conto para crianças
aplicável com base neste enunciado seria o do Ali Babá e os quarenta ladrões. Seria este o conto para
crianças aplicável a esta obsessão do Governo em pagar uma dívida, que não é pagável e em recusar a
importância desta vitória histórica e desta mudança, que o povo grego exige?
Subscrevo a sua apreciação de que, com esta grande mudança, se dá esperança à Europa e reconheço
também que o povo português tem as condições necessárias para compreender que a alternativa é possível e
que fará a avaliação, que bem merece, contra a fatalidade, contra o medo, contra esta lógica de que não há
alternativa, que é aquela que esta maioria tem imposto ao País.