I SÉRIE — NÚMERO 45
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biológicos, oncológicos, já para não falar do caso do dia, que é grave do ponto de vista de medicamentos
inovadores, em relação à Hepatite C. Mas, o mais grave de tudo são os 10 meses para responder à solicitação
de um medicamento inovador que poderia salvar uma vida. Ora, este tempo de 10 meses para responder é um
problema kafkiano da relação entre o cidadão e o Estado.
Sr.as
e Srs. Deputados, convenhamos que as afirmações do Primeiro-Ministro em matéria de saúde pública,
matéria por que rasgou as vestes no último debate quinzenal sobre o Serviço Nacional de Saúde, não têm o
consentimento dos factos, não têm a verdade da realidade.
Mas podemos falar da pobreza — últimas afirmações do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Os
números que foram publicados dão conta de um aumento da pobreza em Portugal a rondar os 20%. Ainda
assim, o limiar de pobreza é mais baixo e, portanto, os números, do ponto de vista da crueza da realidade, são
até mais graves do que aquilo que o inquérito deixa supor. Acerca disto, o Sr. Primeiro-Ministro disse uma
coisa extraordinária, com certeza com um objetivo pré-eleitoral: que se tratava de um eco do passado.
Ora, tudo indica que, em 2013 e em 2014, todas as circunstâncias se agravaram. Agravaram-se do ponto
de vista da diminuição das prestações sociais, agravaram-se do ponto de vista das pessoas abrangidas,
agravaram-se pela dificuldade no emprego, pela desvalorização salarial, por tudo isso.…
Outra das habituais frases de propaganda que eram propaladas tinham a ver com o Instituto Nacional de
Estatística. Ainda hoje, foram conhecidos os números do Instituto Nacional de Estatística, repito, do Instituto
Nacional de Estatística, que o Sr. Primeiro-Ministro tanto preza, que dá conta de um aumento do desemprego
e, portanto, tem havido um vaivém, mas em baixa. Ora, tudo isso aponta para um agravamento da pobreza,
mais o famigerado teto de poupanças do Ministro da Segurança Social nas prestações sobre a pobreza.
Sr.as
e Srs. Deputados, também na área da educação, o Sr. Primeiro-Ministro veio recentemente fazer
alarde daquelas que teriam sido conquistas deste Governo. Porém, olhando para os principais indicadores
internacionais, o que vemos, na realidade, é que a universidade em Portugal encolheu, a investigação
científica encolheu, há menos alunos e menos investigadores, e estes são os indicadores da competitividade e
da capacidade criativa que são tidos em conta na União Europeia.
Também sobre a TAP — se quisermos falar sobre a TAP — tantas e tantos se têm juntado, desde Ramalho
Eanes até aos setores mais à esquerda em Portugal, na defesa da companhia de bandeira e da sua
propriedade pública.
Veja-se que o Primeiro-Ministro faltou à verdade ao dizer que, na União Europeia, não é possível capitalizar
a TAP. Ao que parece, a Comissão Europeia não foi contactada para o efeito. Não há nenhum processo
aberto, não há nenhuma evidência, a não ser uma história mal contada de Chipre.
Sr.as
e Srs. Deputados, o Governo português, juntamente com o Governo espanhol, noutra das célebres
afirmações do nosso Primeiro-Ministro, têm vindo a fazer um caminho de resistência à iniciativa do novel
Governo grego para uma reestruturação das dívidas soberanas.
O Sr. António Rodrigues (PSD): — Já desistiram!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Não vamos falar do «conto de crianças» e de outras formas de apoucamento
e de aviltamento das posições que têm vindo a ser tomadas por parte do Governo português, do Primeiro-
Ministro e dos principais responsáveis.
Devo dizer que as afirmações do Primeiro-Ministro português, a par da atitude do Presidente do Conselho
do Estado espanhol, são muito negativas. Trata-se de países que tiveram modalidades diferentes de resgate,
que estão sujeitos à troica, essa instituição que é uma espécie de instituição bastarda da União Europeia, que
tem vindo a ser rejeitada nos diálogos — que são necessários — intraeuropeus. O que os principais
responsáveis têm feito e dito é que não estão de acordo com qualquer debate/discussão acerca da
reestruturação da dívida, não estão de acordo com uma conferência europeia sobre a reestruturação das
dívidas, não estão de acordo com qualquer mecanismo que tenha a ver com o voltar ao passado, conseguir
tirar uma autópsia dos planos de resgate da troica, encontrar um caminho de crescimento e de defesa dos
direitos sociais e, já agora, dos regimes constitucionais dos Estados-membros na União Europeia. Ou seja, a
Sr.ª Merkel, por interpostas pessoas e por interpostos Estados — Portugal e Espanha —, está a encontrar um
escudo humano para as negociações na União Europeia. E é terrível, é lamentável e é de uma infelicidade