I SÉRIE — NÚMERO 52
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Não, não resolve. Determinante para a situação atual é, sem dúvida, o subfinanciamento do SNS, a
contratação e a forma de contratação dos profissionais e a redução do número de camas.
Resolve tudo, Sr.as
e Srs. Deputados? Não. Mas mudava alguma coisa. Isso mudava.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de resolução do PCP, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, doentes que esperam 7, 8, 10 ou 12 horas por
um atendimento; doentes internados em cadeirões porque os hospitais não têm macas nem camas para os
internar, como aconteceu em Portalegre; doentes oncológicos que, como aconteceu no Hospital de Beja, estão
internados durante seis dias no corredor de um hospital;…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Vergonha!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — … macas de bombeiros retidas nos serviços de urgências um pouco por todo o
País; hospitais a alugar macas aos bombeiros porque não têm macas, e algumas vêm até das corporações do
Algarve para a região de Lisboa; doentes que, depois de estarem várias horas no serviço de urgência,
abandonam o hospital sem terem sido atendidos: eis o retrato dos serviços de urgência um pouco por todo o
País. Este retrato não é de hoje, não é de agora, não é pontual. É um retrato que está instalado há muito
tempo. O Governo sabia e nada fez.
Mas a situação não fica por aqui: por falta de profissionais, e sobretudo por opção política do Governo de
não contratar os profissionais em falta, os serviços de urgência hospitalares estão assegurados sobretudo por
empresas de trabalho temporário e por médicos internos. Ora, o recurso à contratação de empresas de
trabalho temporário, para além de onerar mais o Serviço Nacional de Saúde, deixa muitos horários e turnos
sem resposta, vazios, tal como já aconteceu em vários hospitais, e muito recentemente no Hospital da Póvoa
de Varzim.
A situação caótica e de rutura em que se encontram os serviços de urgência um pouco por todo o País é o
resultado das opções políticas deste Governo, dos cortes no financiamento no Serviço Nacional de Saúde, da
desvalorização social e profissional dos trabalhadores da saúde, do desinvestimento nos cuidados de saúde
primários e do encerramento de extensões e centros de saúde de proximidade.
A situação de rutura nos serviços de urgência dos hospitais não é, como dissemos, um problema pontual,
não é um problema conjuntural, é, sim, um problema estrutural que precisa de medidas estruturais, medidas
que a iniciativa legislativa que aqui apresentamos, que o projeto de resolução que aqui hoje discutimos visa
combater, e que são as seguintes: o reforço dos cuidados de saúde primários e a articulação destes cuidados
com os cuidados hospitalares; a contratação de profissionais em falta e a sua valorização: a garantia da
estabilidade das equipas de profissionais afetas aos serviços de urgência a garantir um funcionamento dos
serviços de urgência com médicos internos e médicos especialistas e a reabertura de camas encerradas nos
últimos anos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de lei do PS, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Sandra Cardoso.
A Sr.ª Sandra Cardoso (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo, o Ministro da Saúde e
a maioria insistem que o País e o Serviço Nacional de Saúde estão melhores. Porém, a realidade prova que a
saúde e os portugueses estão bem piores.
A dimensão discursiva do Ministro Paulo Macedo e da maioria é sucessivamente contrariada pela
dimensão da realidade.