20 DE FEVEREIRO DE 2015
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Aplausos do PCP.
A situação caótica que se vive nos serviços de urgência constitui a ponta do iceberg do estado geral do
Serviço Nacional de Saúde. É o espelho de todos os seus problemas e é também um dramático exemplo da
estratégia de consolidação orçamental seguida pelo Governo.
As opções e as decisões tomadas traduzem a ausência de políticas estruturais na área da saúde,
significando a falência integral das medidas, que são avulsas e desenquadradas.
As opções políticas, os quatro anos de austeridade e os sucessivos cortes — o dobro dos acordados com a
troica —, quer em recursos humanos quer em meios, bem como o empobrecimento da população,
degradaram a resposta dos serviços de saúde, pondo hoje em causa o próprio SNS.
A portaria de reclassificação hospitalar é exemplo da política errática do Governo e de uma visão
exclusivamente centrada na poupança. Anunciada como peça fundamental da reforma dos cuidados
hospitalares, tem sido sucessivamente descredibilizada quer pelos intervenientes da saúde, quer pelo próprio
Ministro da Saúde e pelos seus Secretários de Estado, que publicamente já anularam todo o seu conteúdo.
O Partido Socialista considera que se deve proceder à revogação imediata da portaria com base em quatro
pontos essenciais.
Primeiro ponto: neste diploma, a palavra-chave não é classificação, é desqualificação — a desqualificação
do Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do PS.
Desqualificação, ao pretender o encerramento de valências e serviços clínicos, sem acautelar previamente
as necessidades da população e sem avaliar e ponderar as opções que mais ganhos poderiam garantir, quer
em termos de acesso e de qualidade na prestação dos cuidados de saúde às populações, quer em termos de
uma melhor gestão e maior eficácia na redução de custos.
As alterações sugeridas por este diploma implicam percorrer maiores distâncias entre as várias unidades
de saúde do País e essas distâncias implicam tempo, custos e meios, todos eles escassos, desde logo para
os utentes do Serviço Nacional de Saúde, ou seja, os portugueses e as portuguesas.
Segundo ponto: este diploma tem suscitado imensas dúvidas e enormes preocupações junto das
populações por criar entraves que dificultam ainda mais o acesso aos cuidados de saúde. Revela a
inexistência de uma avaliação ponderada do impacto que tais medidas teriam ao nível dos utentes, dos
profissionais de saúde e das instituições.
O próprio Governo percebeu rapidamente que se tinha metido por um caminho errado e, na primeira
oportunidade, desistiu da sua própria Portaria.
Aplausos do PS.
Terceiro ponto: aquando da sua publicação, a Portaria foi largamente contestada, quer por profissionais e
utentes, quer pelas autarquias, que não se reviram nesta reclassificação.
Quarto e último ponto: a ausência de discussão e envolvimento de peritos, instituições e organismos está
bem patente neste diploma e evidencia a falta de transparência de todo o processo, a confusão nas decisões
tomadas e um grande desconhecimento da realidade.
O Governo não podia ter tomado esta decisão sozinho e ao fazê-lo condenou a sua decisão ao fracasso,
como é hoje evidente para todos, incluindo para o Sr. Ministro da Saúde.
O sucesso de uma decisão desta magnitude só é viável quando existe o envolvimento por parte de
profissionais, instituições, estruturas do Ministério da Saúde, associações de doentes e autarquias, tendo por
base estudos credíveis e uma abrangente discussão pública.
Manter em vigor uma lei que não se aplica apenas descredibiliza o próprio Estado e a democracia, para
além de continuar a adiar a tão anunciada e não realizada reforma hospitalar.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr.ª Deputada, tem de concluir.