21 DE FEVEREIRO DE 2015
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condições de partida, que eram extremamente adversas, na verdade, o que podemos dizer é que as
superámos e, por isso, não vemos necessidade de estar sempre a regressar a essa discussão.
Um outro aspeto tem a ver com a observação que o Sr. Deputado fez a propósito da dignidade dos
portugueses, relacionando isso com uma intervenção que o Presidente da Comissão Europeia fez há dois dias
acerca do contexto em que a troica tem funcionado nos países onde os programas tiveram lugar.
Creio que esta é uma boa ocasião para separar duas coisas que nunca deveriam ter sido misturadas: uma
é a forma como as soluções da troica funcionaram em termos de programas de ajustamento e outra é o
mecanismo de funcionamento institucional da troica tal como foi abordado pelo Presidente da Comissão
Europeia. Nada disto deve ser misturado com a dignidade dos povos ou dos governos. São coisas totalmente
diferentes. A dignidade de Portugal nunca esteve em causa durante o processo de ajustamento.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
E a dignidade dos portugueses também não! Tive a ocasião de o dizer diretamente ao Presidente da
Comissão Europeia.
Nunca teríamos permitido que a dignidade dos portugueses fosse atingida, e não foi atingida, Sr. Deputado.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — É preciso sublinhar muito bem que não é novo o balanço crítico do
funcionamento institucional da troica. Nunca ninguém o quis sequer disfarçar. Tivemos várias divergências no
plano institucional, mas também no plano substancial.
Recordo a afirmação do então Ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, na comissão de
acompanhamento do programa, aqui, no Parlamento. A propósito de umas declarações proferidas pela
Diretora-Geral do Fundo Monetário Internacional sobre a situação portuguesa, o Ministro de então referiu-se-
lhes como sendo reveladoras da hipocrisia institucional que reinava em algumas das instituições da troica. Foi
dito, aqui, no Parlamento, pelo Ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — É verdade!
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — E o Primeiro-Ministro?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Tivemos muitas divergências, enfrentámos muitas dificuldades e
apresentámos a nossa posição, porque nunca deixámos de o fazer, às instâncias políticas a quem a troica
apresentava, evidentemente, as conclusões do seu trabalho, ou seja, ao Presidente do Eurogrupo, que, na
altura, era o atual Presidente da Comissão, ao Presidente da Comissão, ao Presidente do Banco Central
Europeu, à Diretora-Geral do Fundo Monetário Internacional. Com todos, tivemos relações diretas no plano
político e institucional e tivemos sempre o cuidado, mesmo atendendo às dificuldades desta relação
institucional ao nível dos altos funcionários da troica, de nunca iniciar um review em Portugal sem antes e
depois tratar com as instituições políticas e com os seus máximos representantes a quem a troica prestava
contas.
Nunca a troica impôs uma solução a Portugal que não tivesse sido resultado de uma negociação com o
Governo português, fosse com aquele que eu lidero, fosse com aquele que me antecedeu, que negociou o
Memorando exatamente com essa troica e que estabeleceu o mecanismo de reviews tal como nós o tivemos
de executar.
O Sr. João Figueiredo (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Nunca deixámos, perante o Presidente da Comissão Europeia, o Presidente
do BCE, o Presidente do Eurogrupo, a Diretora-Geral do Fundo Monetário Internacional, de expor os nossos
pontos de vista e de conseguir alterar matérias que eram politicamente relevantes e essenciais para o sucesso
do programa.