I SÉRIE — NÚMERO 58
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O Sr. Luís Montenegro (PSD): — De facilidades?!
O Sr. João Oliveira (PCP): — De resto, queria relembrar-lhe alguns números.
Pela vossa mão, a dívida pública aumentou 51 000 milhões de euros. Em 2011, os problemas do País
eram o que eram; hoje, temos mais 51 000 milhões de euros, num total de 220 000 milhões que o País hoje
deve.
Temos 2,7 milhões de pobres, uma boa parte acrescentada pelos senhores. É certo que ainda com a ajuda
dos PEC executados pelo Governo anterior, mas a maior parte é da vossa responsabilidade.
Temos 2,1 milhões de desempregados…
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Dois milhões?!
O Sr. João Oliveira (PCP): — São 2,1 milhões de desempregados, se contar com aqueles que os
senhores tentam esconder das estatísticas! Pois esse é que é o problema!
Protestos do PSD.
É que os senhores querem fazer um retrato da realidade escondendo os problemas, varrendo-os para
debaixo do tapete. Ora, nós já vimos o resultado que dá varrer os problemas para debaixo do tapete, nós já
vimos no que dá. Não façam isso! Enfrentem os problemas, resolvam-nos! E, se não tiverem soluções para os
resolver, assumam essa circunstância!
Sr. Deputado Luís Montenegro, são 2,1 milhões de desempregados num país que, nos últimos quatro anos,
destruiu 500 000 postos de trabalho em termos líquidos — repito, 500 000 postos de trabalho. E a realidade do
desemprego só não é pior porque uma boa parte dos portugueses emigrou, porque uma boa parte dos
portugueses procurou encontrar no estrangeiro o futuro que os senhores aqui lhes negaram com a política que
executaram a concretizar o pacto da troica.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Deputado Luís Montenegro, nesse país de fantasia de que o senhor fala,
quero saber onde cabem os problemas que se vivem nos serviços de saúde, onde cabem os problemas que
se vivem nos hospitais, que têm pouco mais de 50% dos médicos que precisavam, onde cabem os problemas
dos hospitais e dos serviços de saúde do interior, que não conseguem contratar médicos porque não têm
regime de incentivos, apesar de o seu Governo, por várias vezes, ter inscrito essa proposta no Orçamento do
Estado.
Pergunto, ainda, onde cabem os problemas dos utentes que chegam aos centros de saúde desnutridos, em
hipotermia, com desequilíbrios medicamentosos porque não têm condições para manter as suas vidas com um
mínimo de dignidade, porque os senhores fizeram o esbulho de salários, de pensões, das condições de vida
da generalidade dos portugueses. Onde é que nesse país de fantasia, de que o Sr. Deputado falou, cabe esta
realidade que os portugueses hoje vivem?!
Para terminar, Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, queria colocar ao Sr. Deputado Luís Montenegro
uma outra questão, que tem a ver com a falta de credibilidade deste Governo, com a noção que os
portugueses, hoje, têm de que temos um Governo com dois pesos e duas medidas relativamente às
exigências, às obrigações que impõe que se cumpram e aos sacrifícios que impõe aos portugueses e, por
outro lado, as medidas das facilidades e dos favorecimentos que garantem.
Sr. Deputado, o exemplo que temos hoje com a discussão sobre a situação em que está envolvido o
Primeiro-Ministro, sem os esclarecimentos que se impõem e que, ainda hoje, estão por esclarecer, é
claríssimo. Ou, então, outros exemplos — e nós temos muitos para dar — de favorecimento garantido aos
grandes grupos económicos: 1045 milhões de benefícios fiscais, enquanto aos portugueses exigiram o
agravamento de impostos que impuseram.