4 DE JUNHO DE 2015
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Este debate é particularmente importante porque a sociedade portuguesa está confrontada com uma
realidade de empobrecimento, de agudização da pobreza e da exclusão social, que exige medidas
importantes, designadamente no que diz respeito à pobreza infantil.
O ponto 4 da iniciativa hoje em discussão, da autoria de Os Verdes, define como objetivos compatibilizar as
medidas da redução do desperdício de alimentos com segurança alimentar e a satisfação plena das
necessidades alimentares da população, com particular urgência em relação a crianças e jovens, tendo em
conta o relatório do INE sobre a pobreza, as desigualdades e a privação material em Portugal.
Sobre isto, o PCP entende que a realidade da pobreza infantil deve merecer uma resposta imediata e
estrutural, aliás porque os relatórios recentes do Instituto Nacional de Estatística têm alertado para o aumento
da pobreza entre as crianças e os jovens e mesmo o relatório recente da UNICEF — As Crianças e a Crise em
Portugal, com dados de 2013, reconhece que o risco de pobreza é mais elevado em famílias com filhos e,
designadamente, em famílias monoparentais, o que obriga, de facto, à reflexão e à tomada de medidas para
acompanhar e erradicar a pobreza de uma forma generalizada mas, particularmente, entre as crianças e
jovens. Desde logo porque dados do Ministério da Educação diziam que no ano de 2013 existiam nas escolas
públicas 14 000 crianças sinalizadas com fome e carências alimentares graves. E nós entendemos que este é
um alerta que nos deve mobilizar para a tomada de medidas concretas e, por isso, as propostas que aqui são
hoje discutidas, designadamente o ponto 4, colhem, naturalmente, o acolhimento do PCP.
Importa dizer que, em Portugal, uma em cada quatro crianças vivia em agregados com privação material —
estamos a falar de dados relativos a 2012 e que a aplicação das medidas de redução dos apoios sociais e de
cortes nos salários das famílias pode necessariamente agudizar-se — e que uma em cada quatro crianças
vivia em famílias com dificuldade ou incapacidade para pagar um empréstimo, a renda da casa, as contas no
prazo previsto e ter uma refeição de carne ou de peixe a cada dois dias e fazer face a despesas imprevistas.
Portanto, em 2015, no século XXI, Portugal está confrontado com uma situação gravíssima de pobreza infantil
e de privação material.
Da parte do PCP, o compromisso é o da tomada de medidas profundas de garantia dos apoios sociais a
todas as famílias e às crianças que deles necessitem, por isso temos apresentado propostas tendo em vista
quer a revogação da condição de recurso e o alargamento destes apoios, quer a tomada de medidas urgentes
nesse sentido. Assim, temos proposto a gratuitidade no âmbito da ação social escolar a todas as crianças que
necessitem desse apoio.
A pergunta que aqui lhe fazemos é esta: reconhecendo, de facto, a prioridade deste combate, como é que
no ponto 4 do projeto de resolução, relativo à compatibilidade que é necessária no combate ao desperdício
alimentar e à realidade de dar resposta à pobreza infantil, o Partido Ecologista «Os Verdes» entende que este
é o desafio fundamental? Da parte do PCP, acompanhamos, naturalmente, esse objetivo que, para nós, é
civilizacional.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia para responder.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, agradeço aos Srs. Deputados as questões que
levantaram.
Começando por responder às questões colocadas pelo Sr. Deputado Miguel Freitas, quando Os Verdes
propõem que se declare o ano de 2016 como um ano de combate ao desperdício alimentar não é para pôr o
País todo enfeitado com cartazes e atribuir medalhas a toda a gente que participa na cadeia de
aprovisionamento, por exemplo, e pormo-nos todos aqui a felicitarmo-nos uns aos outros.
Quando propomos que seja criado o Ano Nacional do Combate ao Desperdício Alimentar significa atribuir-
se uma responsabilidade também às instituições e a todos os intervenientes no processo para atuarem sobre
o problema, ou seja, no fundo, trata-se de despertar consciências, concentrando num determinado tempo,
neste caso um ano, para que fossem chamadas a tomar ações, iniciativas, para pensar, refletir, debater a
matéria do desperdício alimentar e, designadamente, do seu combate.