27 DE JUNHO DE 2015
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Falamos do regime das contraordenações ambientais, incluindo o ordenamento do território. E queria dizer
que, como princípio geral, a forma como o Governo repõe o ajustamento das molduras ou dos valores das
coimas não me choca absolutamente nada.
Ocorre que há, depois, um conjunto de mecanismos que são encontrados que podem desvirtuar o regime
que se está, à partida, a propor.
Sr. Secretário de Estado, olhamos, por exemplo, para o artigo 20.º-A e encontramos a epígrafe
«Suspensão da sanção», mas corresponde à suspensão de aplicação da coima, que, por exemplo, pode ser
feita por mera publicidade da condenação. Isto não é relativamente pouco, Sr. Secretário de Estado? Isto não
é abrir uma porta com alguma facilidade?
Olhamos também, por exemplo, para o artigo 23.º-A e encontramos qualquer coisa como «atenuação
especial da coima», que pode ser ponderada por via de uma coisa que se chama necessidade da coima. Isto é
uma coisa que não gera grande compreensão. Pode o Sr. Secretário de Estado explicar o que é que isto se
refere? Ou, talvez para uma melhor compreensão, pode o Sr. Secretário de Estado dar exemplos concretos de
casos concretos que poderiam caber nesta descrição?
Ainda, por exemplo, no artigo 47.º-A, em relação à advertência de que toda a gente já aqui falou, pode o Sr.
Secretário de Estado — sendo uma caraterística nova, digamos assim, que o Governo implementa neste
diploma — indicar-nos um caso concreto para que possamos perceber na prática as consequências desta
figura da advertência? Pode explicar-nos, na prática, um caso concreto de uma violação ambiental onde esta
situação pudesse ser aplicada?
Sr. Secretário de Estado, até em função daquilo que a Sr.ª Deputada Ângela Guerra focou relativamente à
experiência em tribunais nesta matéria, queria dizer também que o regime de prescrição nos parece
relativamente curto e que nos parece também uma porta aberta para que muita coisa se esqueça e muita
coisa acabe por surtir algum efeito de práticas prevaricadoras relativamente ao ambiente.
E, por falar nisso Sr. Secretário de Estado, a nossa preocupação talvez seja um pouco maior porque o
historial do Governo, de facto, não é muito benéfico para uma grande credibilidade. Eu quero relembrar que
também este Governo procedeu à regularização de estabelecimentos ilegais com desconformidade ambiental.
Portanto, Sr. Secretário de Estado, há aqui, de facto, algumas questões que parecem não ter uma grande
lógica nalgumas preocupações que apregoamos e que são devidas, mas depois, na prática, há sempre
grandes beneficiários de muitas prevaricações, designadamente ao nível ambiental.
E isto para dizer o quê? Que o regime das contraordenações ambientais é uma matéria importante, mas
que as coimas não resolvem tudo e que há uma prática que antecede esta matéria que se prende justamente
com matérias preventivas e matérias de fiscalização onde o Governo fica a dever muito à sociedade
portuguesa. O Governo quer dizer que tem cortado muito na função pública…
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Como dizia, o Governo quer dizer que tem cortado muito na função pública e que essa matéria se
repercute muito ao nível ambiental, da fiscalização ambiental e da vigilância ambiental. E esta, Sr. Secretário
de Estado, é uma matéria que nos preocupa grandemente. Nós estamos muito coxos ao nível da vigilância e
da fiscalização e para não chegarmos às coimas esta parte é fundamental, mas aquilo que eu pedia era que o
Sr. Secretário de Estado aplicasse, de facto, este diploma a exemplos concretos e práticos para que nós
pudéssemos perceber os regimes como os da advertência, da atenuação especial da coima, por necessidade
de coima, e por aí fora, como referi na minha intervenção.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado do Ordenamento do
Território e da Conservação da Natureza.
O Sr. Secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza: — Sr.ª
Presidente, Srs. Deputados: Agradeço as questões colocadas e gostaria de dar nota que, pelo que é dado
perceber, existe, de facto, o entendimento de que estamos a dar passos concretos e importantes para gerir
uma realidade que existe no nosso País e um problema que já vem detrás.