I SÉRIE — NÚMERO 69
32
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem palavra o Sr. Deputado Francisco Rocha.
O Sr. Francisco Rocha (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,
recentemente, nesta Câmara, foram discutidos dois projetos de resolução relacionados com a interdição do uso
do glifosato.
Desta vez, o projeto de lei apresentado pelo Bloco de Esquerda, que aproveito para saudar por esta iniciativa,
centra-se na proibição da aplicação de produtos contendo glifosato em zonas urbanas, em zonas de lazer e em
vias de comunicação e, também, na avaliação permanente dos seus efeitos na saúde humana.
Sabemos que um dos maiores desafios para a Humanidade é a busca de modelos de desenvolvimento mais
sustentáveis que permitam compatibilizar a perspetiva ambiental e a económica preservando recursos e a
biodiversidade.
A discussão de hoje insere-se nessa visão, colocando no centro do debate político uma substância química,
o glifosato, que, apesar de amplamente estudada, arrasta consigo controvérsia, dúvida e incerteza sobre os
seus efeitos na saúde humana.
Por isso, queremos começar por elogiar o elevado sentido de responsabilidade que o Ministério da Agricultura
tem adotado na abordagem destas matérias. Destaco, como exemplo recente, a proibição e retirada imediata
do mercado de todos os fitofármacos que tinham taloamina, um coformulante utilizado nos compostos herbicidas
à base de glifosato.
Não foi necessário nenhum debate parlamentar para que o Governo, após a conclusão do processo de
reavaliação comunitária dos riscos para a saúde humana, animal e ambiental da taloamina, determinasse a sua
proibição e, consequentemente, a saída do mercado de 17 produtos fitofarmacêuticos.
A Sr.ª Susana Amador (PS): — Muito bem!
O Sr. Francisco Rocha (PS): — Na questão do glifosato, importa levar em linha de conta todo o
conhecimento científico que tem sido produzido e que, como se sabe, continua a não ser unânime. Por isso,
devemos valorizar todas as tomadas de posição que diversos países, entidades oficiais e diversas ONG têm
escrito sobre o assunto.
Devemos também assumir que as questões relacionadas com a identificação de agentes carcinogénicos e a
crescente ocorrência de estirpes bacterianas multirresistentes devem ser encaradas como muito relevantes e a
que urge dedicar mais atenção.
No que concerne ao uso agrícola — sublinho, ao uso agrícola — também não podemos ignorar que a posição
da OMS não é coincidente com a leitura que a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar faz sobre o
glifosato e a ativação do chamado «princípio da precaução».
De igual modo, temos de elogiar as associações de agricultores que aconselham os seus associados a utilizar
de forma regrada, racional e consciente os diversos pesticidas e que os incitam a adotar práticas de proteção
integrada.
Por último, queria destacar todas as câmaras municipais e juntas de freguesia que decidiram excluir o uso
do glifosato nos seus territórios, passando a usar meios mecânicos, térmicos e biológicos como uma alternativa
mais sustentável.
É nessa diversidade de posições que nos devemos situar, percebendo cada vez melhor que no mundo atual
não existem verdades absolutas e imutáveis e nesse entretanto, enquanto a ciência não apresenta respostas
finais, o que devemos exigir, enquanto cidadãos, é o aprofundamento de mecanismos que garantam a nossa
biossegurança.
Por isso, queria enaltecer as iniciativas que visam proteger a saúde das populações e elevar o seu grau de
proteção em relação a agentes potencialmente carcinogénicos, porque, nesta matéria, Sr. Deputado Nuno Serra,
a inocuidade não existe.
É essa a pergunta que lhe formulo: para o PSD não é uma mais-valia ter espaços públicos livres de glifosato
em termos ambientais?
Aplausos do PS.