I SÉRIE — NÚMERO 19
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, vejo-me forçado a fazer
uma nota prévia, porque ouvi o Sr. Deputado António Leitão Amaro dizer que este Orçamento é uma má
proposta, é um caminho errado que começou em 2016 e vai continuar em 2017 e insiste numa política
orçamental errada.
Ora, nós pensávamos que o PSD hoje, aqui, diria que este Orçamento tem arranjo. E porquê? Por que é que
nós criámos esta expectativa? Porque durante a discussão do Orçamento do Estado para 2016 o PSD anunciou
ao País: «Nós não apresentamos propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2016 porque este
Orçamento não tem arranjo possível» — palavras do Sr. Deputado Pedro Passos Coelho, da tribuna, quando
fizemos aqui o encerramento do debate, na generalidade, do Orçamento do Estado para 2016. Ora, uma vez
que o PSD, desta vez, apresenta propostas de alteração, isto significa que o PSD considera que este Orçamento,
ao contrário do Orçamento do Estado para 2016, afinal tem arranjo. Portanto, vamos esperar que o PSD, até ao
fim do debate, o possa vir a reconhecer.
Sr. Ministro das Finanças, concorde-se ou não, agrade ou não a todas as bancadas deste Hemiciclo, a
verdade é que este Orçamento representa uma continuidade no caminho iniciado com o Orçamento do Estado
para 2016 e que se está a traduzir na reposição de direitos e na devolução de rendimentos que o Governo
PSD/CDS retirou às famílias portuguesas. Pode ser pouco, pode ainda ser insuficiente, mas a verdade é que
este Orçamento mantém a linha iniciada em 2016, o que Os Verdes consideram absolutamente fundamental,
até porque representa um dos pressupostos para a viabilização do Orçamento, na generalidade, por parte de
Os Verdes. Mas há outro pressuposto, que tem a ver com a necessidade de maior investimento, que também
importa referir.
Nesta matéria, apesar de o investimento público, por exemplo, na ferrovia ficar aquém do necessário, na
perspetiva de Os Verdes, ainda assim, registamos a proposta de Os Verdes acolhida pelo Governo no que diz
respeito aos incentivos fiscais para que as micro, pequenas e médias empresas se instalem no interior do País.
É uma medida que, não sendo a solução, representa, contudo, um excelente contributo para fazer renascer as
economias locais e para combater as assimetrias regionais e é também um esforço para travar a desertificação
do interior e contrariar a tendência de abandono do mundo rural.
Sr. Ministro das Finanças, é verdade que a proposta do Governo repõe direitos, devolve rendimentos, mas,
na perspetiva de Os Verdes, é ainda insuficiente para responder às necessidades e aos anseios das famílias e
de quem trabalha.
Portanto, consideramos que, em fase de discussão na especialidade, esta proposta de Orçamento pode e
deve ainda ser melhorada. Há, no nosso entendimento, condições para se ir mais longe. Por exemplo, quando
olhamos para a previsão dos custos com as PPP rodoviárias, que vão custar ao Estado, em 2017, mais 204
milhões de euros, e com uma rentabilidade média de 8%, quando sabemos que nenhum banco paga neste
momento uma taxa de juro de 8%, esta circunstância deve levar-nos a considerar a possibilidade de o Governo
proceder à renegociação dessas mesmas parcerias público-privadas. Seriam mais uns milhões que poderiam ir
para onde fazem falta.
Ao nível dos benefícios fiscais, Sr. Ministro, valorizamos a redução do prazo de reporte de prejuízos fiscais
de 12 para 5 anos — só beneficiava as grandes empresas e os grandes grupos económicos —, que, aliás, era
uma reivindicação antiga de Os Verdes, mas achamos que se poderia ir mais longe na taxação dos rendimentos
do capital, nomeadamente com a eliminação da taxa liberatória, uma taxa que continua a impedir que os
rendimentos do capital sejam englobados em sede de IRS.
Portanto, Sr. Ministro, Os Verdes valorizam os avanços que este Orçamento transporta, nomeadamente em
termos de devolução de rendimentos das famílias, mas consideramos que podia ir mais longe e esperamos que,
em sede de especialidade, se possa caminhar nesse sentido, ou seja, no sentido de reforçar a componente
social mas também fortalecendo os objetivos ambientais. Valorizamos, pois, o que está feito, e é muito, mas
achamos que podíamos ir mais longe.
Ainda assim, Sr. Ministro, não posso deixar de referir um elemento que nos parece muito importante na
análise deste Orçamento do Estado.
Como certamente já se percebeu, o centro da discussão deste Orçamento não tem nada a ver com o centro
das discussões dos Orçamentos do Governo do PSD e do CDS. E porquê? Porque hoje o centro da discussão
é saber se aquilo que se devolve às famílias é muito ou é pouco, é suficiente ou insuficiente, chega ou não