I SÉRIE — NÚMERO 31
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Há muitas pessoas que pensam que este desperdício se circunscreve ao ato de consumo. Não é verdade,
ele vai da produção ao transporte, ao processamento, ao armazenamento, ao embalamento, à distribuição e
também, evidentemente, ao consumo.
Por outro lado ainda, quando falamos de desperdício alimentar, falamos de um grave problema ambiental e
social. Devemos pensar que cada alimento que se perde, que se desperdiça, significa que foram utilizados
recursos naturais em vão: água, energia, solos e outros.
Mas também é importante pensarmos nas carências alimentares ao nível mundial e ao nível social e perceber
como é dramática esta contradição do desperdício alimentar. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação) bastaria que um terço do desperdício alimentar fosse aproveitado para que se
pudesse matar a fome a milhares e milhares de seres humanos.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, com esta preocupação, Os Verdes apresentaram, na Legislatura
passada, um projeto de resolução, que foi aprovado por unanimidade e que deu lugar a que o ano de 2016 fosse
declarado como o Ano Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar.
Queremos daqui saudar as diferentes organizações e movimentos que, neste ano, promoveram iniciativas
sobre o desperdício alimentar. Também o Sr. Presidente da República se associou a esta matéria e não queria,
evidentemente, deixar de cumprimentar o facto de o Café de Ciência, neste ano, ter sido dedicado a esta matéria.
Os Verdes procuraram também que no Orçamento do Estado para 2016 e também no Orçamento do Estado
para 2017 constasse uma norma específica sobre a matéria do desperdício alimentar para que o Governo não
perdesse o horizonte da necessidade de intervir e atuar sobre esta matéria. Foi justamente com base na
resolução aprovada na Assembleia da República, proposta por Os Verdes, que deu lugar à Resolução n.º
65/2015, que o Governo criou a Comissão Nacional para o Combate ao Desperdício Alimentar.
Essa Comissão tem um objetivo a curto prazo: o da apresentação, até ao final deste ano, de uma estratégia
e de um plano de ação para o combate ao desperdício alimentar. Mas, Sr.as e Srs. Deputados, temos já
informação pública de que o Governo não receberá essa estratégia e esse plano de ação, tendo o prazo sido
adiado, segundo palavras do próprio Governo, para março de 2017. Os Verdes consideram preocupante este
adiamento e esperamos que ele não se arraste mais.
De resto, gostaríamos de salientar que teria sido muito proveitoso que o Governo tivesse optado por participar
neste debate, porque julgamos que deve também explicações à Assembleia da República a propósito desta
matéria. Consideramos que, neste debate, teria sido proveitosa a sua presença.
Sr.as e Srs. Deputados, o que é que Os Verdes propõem concretamente? Que essa estratégia e esse plano
de ação sejam feitos com uma forte participação pública e que seja feito um diagnóstico sobre aquilo que se
desperdiça em Portugal, porque o único estudo que existe, o PERDA (Projeto de Estudo e Reflexão sobre o
Desperdício Alimentar), é uma mera estimativa. Nós não sabemos, de facto, quanto se desperdiça em Portugal,
e é preciso dar passos largos relativamente a esta matéria.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O desperdício alimentar afeta milhares
de cidadãos, impacta negativamente o meio ambiente e provoca instabilidade na soberania alimentar, tanto a
nível individual como familiar. Esta disfunção na atribuição e consumo de bens alimentares reflete um profundo
desequilíbrio cultural e económico da sociedade contemporânea.
E os dados são claros: atualmente, no mundo, o nosso modelo social e económico desperdiça 1,3 mil milhões
de toneladas de alimentos e, na Europa, cada cidadão desperdiça em média 179 quilos de bens alimentares.
Em Portugal, os 21 bancos alimentares contra a fome distribuíram em 2015 um total de 28 000 mil toneladas
de alimentos, num valor global estimado de 39 milhões de euros, ajudando assim 2 600 instituições e chegando
a aproximadamente 440 000 pessoas. Estes dados são gritantes e requerem ação.
E, para dar corpo a esta urgência, o Parlamento português declarou que 2016 seria o Ano Nacional do
Combate ao Desperdício Alimentar. Porém, chegados a 21 de dezembro de 2016, esta vontade política ainda
não se materializou.