I SÉRIE — NÚMERO 38
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qualquer cidadão ou cidadã sénior na discussão sobre as políticas do município em geral e, em especial, sobre
aquelas que lhes dizem particularmente respeito.
Propõe-se que este órgão possa aprovar pareceres e recomendações, elaborar propostas de ação e
pronunciar-se sobre diversas matérias de relevo para a vida dos municípios, criando a oportunidade de
intervenção para todas e todos os que queiram continuar a exercer a sua cidadania e mesmo estimulando esse
exercício, com benefício seguro para toda a comunidade.
Uma realidade que causa perplexidade é o facto de o estudo da dor não merecer, em diversos cursos da
área da saúde, a existência de uma disciplina específica, sendo o tema tratado de forma dispersa ou nem sequer
abordado. De igual forma, não se justifica que a geriatria não seja ainda, em Portugal, matéria de estudo
obrigatório para todos aqueles que frequentam cursos na área da saúde, ao contrário do que sucede na
esmagadora maioria dos países da União Europeia. É por isso que recomendamos ao Governo que promova
junto das instituições de ensino superior a inclusão da geriatria e do estudo da dor nos programas curriculares
de todos os cursos da área da saúde.
Não se trata, portanto, de defender apenas uma maior formação para os profissionais já em exercício, nem
da criação de uma especialidade de geriatria, matéria que sabemos ter gerado tal polémica no passado que
acabou por bloquear essa possibilidade. Trata-se de defender a incorporação destas matérias na formação de
base de todos os profissionais, de forma transversal.
Recomendamos ainda ao Governo que regulamente as universidades seniores, entidades que cumprem hoje
uma função absolutamente relevante na inclusão, aprendizagem e interação desta ampla faixa da população.
Bem sabemos que, após a entrada da primeira versão deste projeto, o Governo se apressou a aprovar uma
resolução sobre o tema. Mas não chega. É preciso regulamentar o seu funcionamento e valorizar realmente,
com medidas concretas, a ação das universidades sénior.
Portugal tem hoje mais de 20% de pessoas com 65 ou mais anos de idade e terá, previsivelmente, mais de
um terço da sua população nesta faixa etária em 2050. O País não está preparado para esta realidade a muitos
níveis e é imperativo que atribua prioridade à criação das condições para responder adequadamente a esta
situação agora e projetando desde já as políticas públicas e os meios que lhe permitam agir com eficácia sobre
uma circunstância tendencialmente agravada nos próximos anos.
Esta preparação exige também a consciência de que temos de promover uma cultura mais personalizada e
isenta de massificação. Cada pessoa idosa é uma pessoa diferente com direito à sua individualidade e ao
desenvolvimento livre da sua personalidade, até ao seu último dia de vida. A eliminação das discriminações, a
prevenção dos maus-tratos e a defesa da sua segurança são também linhas absolutamente prioritárias para
este objetivo! E, agora que se aproxima um tempo propício a estas reflexões, promovam-se cidades mais amigas
das pessoas idosas!
No Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas, publicado já há alguns anos pela Fundação
Calouste Gulbenkian, reproduzem-se diversas declarações com muito interesse, algumas das quais nos podem
fazer refletir sobre tudo o que nos falta fazer nesta matéria. Diz uma delas: «Os semáforos nas passadeiras
foram feitos para atletas olímpicos!». Diz outra: «Olham para nós como se a nossa ‘data de validade’ tivesse
expirado».
Respeitemos, pois, os tempos dos mais velhos! E tomemos em mão o nosso tempo para que, com maior
eficácia, consigamos defender e promover melhor os seus direitos!
Aplausos do PSD e da Deputada do CDS-PP Isabel Galriça Neto.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Idália Salvador Serrão.
A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Teresa Morais, ouvi atentamente a sua
intervenção.
Todos conhecemos a realidade demográfica de Portugal e da Europa, aliás, conhecemos a realidade
demográfica de Portugal há muitos anos e não é só de agora a tendência de envelhecimento da nossa
população, a tendência para, cada vez mais, as mulheres terem menos filhos, as famílias optarem por ter menos
filhos e, por isso mesmo, termos a nossa população com mais de 65 anos a crescer de forma que não nos deve
deixar indiferentes e que nos deve deixar preocupados.