3 DE MARÇO DE 2017
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O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, temos quórum, pelo que declaro aberta a
sessão.
Eram 15 horas e 5 minutos.
Os Srs. Agentes da autoridade podem abrir as galerias, por favor.
Srs. Deputados, vamos dar início à nossa agenda de hoje, que é composta por um conjunto vasto de pontos,
sendo o primeiro o debate de urgência, requerido pelo Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes»,
sobre áreas protegidas classificadas.
Para iniciar o debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista «Os Verdes».
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Ambiente, Sr.ª Secretária de Estado do
Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares,
Sr.as e Srs. Deputados: O Ministério do Ambiente anunciou que até ao final de março vai avançar com um projeto-
piloto para um novo modelo de gestão das áreas protegidas, ensaiado no Parque Natural do Tejo Internacional, e
que, até ao final do ano, a ideia é avaliar a experiência de modo a alargá-la às demais áreas protegidas.
De acordo com o Governo, esse novo modelo de gestão resultaria numa direção colegial composta por três
elementos: um presidente de câmara, que lideraria essa direção; um membro do ICNF (Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas); e um representante de uma associação de ambiente ou de uma instituição de
ensino superior.
Os motivos alegados pelo Governo para esse novo modelo de gestão são, fundamentalmente, dois: primeiro,
o atual modelo de gestão, da autoria de um governo do PS, que resultou da fusão da gestão de áreas protegidas
em apenas cinco departamentos ao nível nacional, não funciona bem; em segundo, as áreas protegidas dispõem
de um conjunto de ativos que são desaproveitados.
Este é o quadro que já motivou Os Verdes a, insistentemente, colocar questões aqui, no Parlamento, quer
ao Primeiro-Ministro quer ao Ministro do Ambiente, sem que as respostas, porém, nos parecessem
esclarecedoras e satisfatórias, o que nos levou, portanto, a convocar o presente debate de urgência.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que nos parece que há um ponto de consenso do qual podemos partir para
a discussão: ao nível das áreas protegidas, as coisas, como estão, não funcionam bem.
Os Verdes também consideram que o atual modelo de gestão das áreas protegidas, imposto por José
Sócrates em 2008, não foi positivo, tendo esvaziado cada área protegida da sua própria comissão diretiva e
criado a figura de um só diretor para várias áreas protegidas.
Era evidente, como Os Verdes denunciaram na altura, que este distanciamento das direções em relação a
cada área protegida concreta dificultava as decisões da gestão de proximidade, anunciava mais burocracias e,
sobretudo, visava disfarçar a falta de meios a pretexto de uma diferente gestão interna de recursos.
O Governo e a maioria PSD/CDS, que, de uma forma ou de outra, nunca esconderam o seu desejo de
aproveitar as áreas protegidas para a proliferação de negócios, o que poderia chegar à meta da gestão privada
das áreas classificadas, também contribuíram para a fragilização dos planos de ordenamento das áreas
protegidas, considerados planos especiais de ordenamento do território, ordenando a sua transposição para os
PDM (planos diretores municipais) até meados deste ano, através da lei de bases dos solos, do ordenamento
do território e do urbanismo. Isto para já não falar do claro subfinanciamento a que também votaram o ICNF,
juntando-lhe a componente das florestas, o que não se traduziu, ao contrário do que anunciaram, em nenhum
acréscimo e eficácia na fiscalização e no reforço de meios para a conservação da natureza, antes pelo contrário.
Os Verdes defendem que cada área protegida deve estar dotada da sua própria direção e que a gestão das
áreas protegidas deve promover o envolvimento das comunidades locais, através de participações colaborativas
efetivas, porque essa é a forma de garantir que a gestão das áreas classificadas não se faz contra os recursos
naturais, que importa preservar, nem contra as pessoas e as suas atividades sustentáveis.
Até aqui parece que não estaremos longe de poder obter um consenso com o Governo sobre esta questão. O
problema é que o Governo quer adotar um modelo de municipalização das áreas protegidas e Os Verdes consideram
que essa municipalização não vai ao encontro dos objetivos necessários à rede de áreas protegidas no País.