I SÉRIE — NÚMERO 58
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Existe uma visão, da qual nós não partilhamos, em que as áreas protegidas deveriam ser espaço de
paisagens virgens para conservar apenas as espécies e onde o homem seria apenas um visitante.
Se é verdade que muitas vezes existe um conflito entre a proteção da natureza e o homem que habita nestes
espaços, impondo restrições ao uso do solo, limitando a utilização dos recursos naturais e até o uso dos espaços
edificados, não é menos verdade que não há espaços territoriais sustentáveis sem a vivência humana.
As áreas protegidas não podem representar apenas zonas livres da ação humana, mas territórios que reflitam
um equilíbrio entre a paisagem natural e as atividades desenvolvidas pelo homem.
Assim, o Governo propõe-nos a participação das populações na sua gestão, através de quem os representa,
numa gestão de proximidade, permitindo a existência de atividade humana regulada nestes territórios,
acautelando os valores ambientais, preservando e potenciando a biodiversidade existente. Não há qualquer
municipalização, esta ideia não passa de um título de jornal.
O modelo que o Governo aqui nos apresenta e que se encontra em avaliação num projeto-piloto no Tejo
Internacional envolve autarquias, organizações não-governamentais, instituições de ensino superior, num
processo de partilha de gestão e de valorização do Parque e da sua biodiversidade, sem diminuir em nada as
responsabilidades do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, contribuindo para a promoção das
atividades tradicionais, para a preservação do património, para a promoção da educação ambiental, para o
desenvolvimento do turismo da natureza, respondendo, simultaneamente, às dificuldades e necessidades
daqueles que vivem nos parques naturais.
Não queremos acreditar, nem tão-pouco compreendemos que, ao longo de décadas nesta Casa, se tenham
reivindicado medidas de descentralização e de desenvolvimento dos nossos territórios e que agora alguém
receie testá-las para apurar um modelo final.
Desejamos que, no debate de hoje, as bancadas e os grupos parlamentares possam aproveitar esta
oportunidade para apresentar propostas objetivas e positivas que enriqueçam a proposta do Governo e não
corram na pista do negativismo da oposição pela oposição.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para esgotar o resto do tempo do Partido Socialista, tem a
palavra o Sr. Deputado José Manuel Carpinteira.
O Sr. José Manuel Carpinteira (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Ambiente, Sr.ª e Sr. Secretários de
Estado, Sr.as e Srs. Deputados: A gestão das áreas protegidas sempre gerou inúmeros conflitos, umas vezes
por estar muito longe dos municípios, outras por estar muito próximo.
É o difícil balanço do desenvolvimento sustentável entre o ambiente, a sociedade e a economia e, como
todos sabemos, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, com os meios de que dispõe, não tem
conseguido uma gestão eficaz das áreas protegidas, deixando ao abandono muitos desses espaços naturais.
Nesse sentido, o Governo apresenta um novo modelo de gestão das áreas protegidas, que passarão a ser
geridas como ativos, cabendo aos municípios a defesa dos valores sociais, culturais e económicos e ficando o
ICNF com a conservação da natureza.
Com este novo modelo, não está em causa transferir a gestão das áreas protegidas para os municípios, mas,
antes, deixar a seu cargo algumas das vertentes dessa gestão, mantendo-se no ICNF a proteção da natureza.
Envolver as autarquias e as associações mais representativas não é municipalizar as áreas protegidas; pelo
contrário, é partilhar responsabilidades na gestão, como condição essencial para um melhor desenvolvimento
sustentável desses espaços naturais.
Assim, com este novo modelo de gestão de proximidade, o que o Governo pretende é reforçar e valorizar a
Rede Nacional de Áreas Protegidas.
No PS acreditamos, efetivamente, que as autarquias locais acrescentam eficácia e progresso ao País.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Manuel Carpinteira (PS): — Assim será também na área do ambiente.