3 DE MARÇO DE 2017
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Por isso, começarei por descrever os eixos em que assenta a nossa proposta.
As áreas protegidas são ativos excecionais do País. Por abandono da atividade económica e da presença
humana, mas também por causa da aplicação do modelo de gestão centralista, têm sido progressivamente
abandonadas, não cumprindo, sequer, a sua primeira função: a preservação dos valores naturais valorizados
com a presença e atividade humana.
Passados 30 anos sobre a primeira lei de bases, julgo que podemos dizer que os temas do ambiente entraram
no dia a da das pessoas e das organizações. Evoluímos muito e, por isso, penso que todos estaremos de acordo
em que não podemos manter estático o atual modelo de gestão.
Dinamizar uma parcela de quase 8% do território nacional que, além do mais, constitui a área mais
representativa do nosso património natural é uma tarefa que deve mobilizar quem no território tem uma
capacidade decisiva para fazer com que as coisas aconteçam.
A solução tem de ser encarada à escala nacional, incidindo numa rede de áreas protegidas articulada de
forma solidária e consistente e a uma escala regional, focando-nos na singularidade da gestão de cada área.
Tudo o que queremos é reforçar a rede de áreas protegidas, o que só será possível no momento em que a
valorização do território seja uma parcela da sua preservação.
Temos de garantir que a atividade humana continua, também ela, a ser geradora de biodiversidade e, para
tal, temos de envolver os gestores do território e as suas associações mais representativas na gestão das áreas
protegidas do País.
A gestão de uma área protegida comporta 67 atividades, das quais 32 correspondem a missões de
salvaguarda e 35 a missões de promoção e valorização do território.
O ICNF, com os meios de que dispõe, assegura as primeiras 32, estando as restantes 35 simplesmente por
fazer. E o resultado está a vista.
As atividades de salvaguarda no ICNF estão no quadro da jurisdição legal e técnica do próprio Instituto e
algumas delas decorrem de regras europeias e assim se manterão; as restantes são atribuições próprias de
gestão das áreas protegidas e, como já referi, estão por cumprir.
Envolver as autarquias, as ONGA (organizações não-governamentais de ambiente), as instituições
universitárias e as associações com atividade relevante no parque na sua gestão corresponde a um esforço que
beneficiará os valores naturais.
Chamar a isto «municipalizar as áreas protegidas» é fazer um título de jornal, que, neste caso, é errado e
não corresponde à notícia.
O que iremos, então, fazer?
Em primeiro lugar, não vamos mudar as regras, mas vamos, antes, desenvolver um projeto-piloto. Vamos
criar um caso que envolva autarquias e entidades que representem a sociedade civil na gestão de um parque.
Claro que queremos alargar este modelo e institucionalizá-lo posteriormente, ou seja, no final deste ano,
início do próximo, faremos aprovar um decreto-lei do qual conste um novo modelo de gestão devidamente
experimentado.
Temos convicções, reconhecendo que também temos algumas dúvidas e, por isso, esta necessidade de
experimentar.
A principal convicção é a de que envolver quem está no terreno na gestão é um ganho para os espaços
protegidos. A promoção das atividades tradicionais, da recuperação do património, da educação ambiental e do
turismo da natureza, bem como a resposta às necessidades específicas de quem vive nos parques naturais,
são atividades que só ganham se forem lideradas pelas autarquias. O mesmo é válido para a ciência, a
internacionalização do conhecimento, a sensibilidade para fenómenos de expressão natural localizados,
exigindo-se aqui o envolvimento das ONGA, das universidades e dos politécnicos.
A direção da área protegida que servirá de projeto-piloto no Parque Natural do Tejo Internacional terá três
elementos e será presidida por um autarca, eleito pelo povo, o mesmo povo que elege os Deputados, e que será
o rosto do parque ou área protegida. O diretor técnico será do ICNF e este será o único «profissional» na direção.
A direção, que será um órgão executivo, emana de um conselho de gestão, que integrará todas as autarquias
e associações que a ele pretendam pertencer.
Mas, sim, também temos dúvidas e, por isso, experimentamos.