22 DE JUNHO DE 2017
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fortemente minimizadas, porque Portugal não pode estar condenado, ano após ano, a viver com o receio e a
angústia de enfrentar tragédias como aquela que agora sobre todos nós se abateu.
Nenhum de nós ignora que o diagnóstico das fragilidades que expõe o País a este flagelo está feito, mas
todos também temos a consciência de que, se no passado se perderam vidas humanas, sobretudo bombeiros,
e se registaram significativos danos materiais, as ocorrências deste ano atingiram dimensões sem precedentes,
particularmente em termos de vítimas civis.
É precisamente esta diferença tão marcante entre o passado e o presente que exige um apuramento
exaustivo daquilo que se terá passado. Fazê-lo será não apenas a maneira de garantir que este drama não mais
se repetirá mas, mais do que isso e sobretudo, o melhor modo de honrar a memória daqueles nossos
compatriotas que pagaram o último dos preços porque confiaram, como era seu direito fazê-lo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP e de Deputados do PS e do BE.
O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: No passado
domingo, o País acordou em choque quando se apercebeu das consequências trágicas do incêndio que
deflagrou em Pedrógão Grande. Morreram 64 pessoas e outras 204 ficaram feridas, algumas em estado grave.
Estamos perante uma verdadeira tragédia nacional, merecedora do luto decretado.
O sentimento que nos assalta, como compatriotas que somos, é o de solidariedade para com as famílias e
os amigos das vítimas e para com os que perderam os bens que tinham — a mesma solidariedade que todos
os dias vemos crescer de norte a sul do País, passando pelas regiões autónomas, e que não podemos deixar
de enaltecer.
Dirijo também uma palavra aos soldados da paz, que viram um camarada seu perecer nesta tragédia. Têm
sido sempre um exemplo de coragem em condições de uma adversidade absolutamente excecional.
Todos os bombeiros e todos os homens e mulheres das diferentes entidades que estão junto das populações
a ajudar quem mais precisa são um verdadeiro exemplo de serviço público. Em nome da Assembleia da
República, o meu muito obrigado.
Em democracia, há sempre espaço para a avaliação e para a crítica. A Assembleia da República não esquece
que tem como nobre missão legislar, mas também fiscalizar as ações da administração do Estado. É uma função
constitutiva do Parlamento democrático que não deixará de ser exercida.
Há aspetos a apurar no imediato e no quadro de uma avaliação global dos procedimentos seguidos neste
caso. O País exige respostas claras a dúvidas legítimas. A saber, como foi possível? Como atuaram as
diferentes entidades responsáveis neste caso? O que se passa com a política florestal e o ordenamento do
território? O que cabe ao Estado e o que compete aos privados? Que balanço fazemos das reformas orgânicas
ao nível da gestão e regulação destas áreas das florestas e da proteção civil? São dúvidas legítimas e debates
necessários.
A Assembleia da República será sempre, por direito próprio, o palco certo para todos os debates e para todas
as iniciativas. Mas, por respeito àqueles que perderam a vida, quisemos, em primeiro lugar, nesta sessão, a
seguir ao luto nacional, homenagear a sua memória. Devemos-lhes isso.
No terreno, a prioridade ainda é cuidar dos feridos, apoiar as famílias e populações afetadas e mostrar
confiança naqueles que lá estão a combater as chamas.
Em nome da Assembleia da República, expresso às vítimas e às famílias das vítimas o meu mais sentido
pesar e o meu maior respeito pela dor que estão a passar.
Uma palavra de esperança para os autarcas de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos,
Pampilhosa da Serra, Góis — presidentes de câmara, vereadores, presidentes de junta e de assembleia da
freguesia, alguns aqui presentes, a quem saúdo vivamente.
Com a força das populações, com a solidariedade já manifestada por todo o País e pelos nossos parceiros
europeus, estes concelhos vão renascer das cinzas.
Muito obrigado, pela vossa atenção.
Aplausos PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e de Deputados do PSD e do CDS-PP.