5 DE JANEIRO DE 2018
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emocional e comportamental, constitui um facto incontestável que tem vindo a ser reconhecido, de forma
transversal, na sociedade, o que também é corroborado por aqueles pareceres.
Acresce que, hoje, a nossa legislação não mais reconhece os animais como coisas, sendo, sim, seres vivos
dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza e, por isso, trazemos a debate
uma proposta onde: se estende a proteção jurídica existente para os animais de companhia a todos os animais
sencientes vertebrados; se determina que todos os animais devam estar livres de fome e sede, de dor,
ferimentos ou doenças, de medo e angústia, e que possam expressar o seu comportamento natural; se
criminaliza o ato de matar um animal fora dos trâmites legais, seja precedido ou não de maus tratos; se
criminaliza o ato de abandonar um animal, independentemente da vida de este correr perigo ou não; se obriga
os condenados pela prática do crime de maus tratos a frequentar programas específicos de prevenção de
violência; e se determina que o fiel depositário deve ser o Estado ou associações zoófilas e não, nunca, o
agressor, como agora sucede.
Por fim, importa também criar um grupo de trabalho constituído por profissionais de saúde animal e humana,
com vista à prevenção e tratamento de casos de síndrome de Noé ou de acumulação de animais. Trata-se de
um problema de saúde mental e, portanto, de bem-estar da própria pessoa. É também um problema de maus
tratos a animais e, por fim, comporta também risco para a saúde pública.
Sr.as e Srs. Deputados, estas medidas têm a possibilidade de melhorar e proteger significativamente a vida
dos animais e refletem uma sociedade mais evoluída, com respeito por todos os seres, independentemente das
suas diferenças.
É tempo de dar corpo a uma verdadeira proteção dos animais.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do Partido
Socialista, o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começava precisamente por
saudar os peticionários pelo trabalho detalhado e de minúcia com que elencaram muitos dos problemas que a
atual legislação — quer a legislação nova, quer a anterior lei ainda em vigor — ainda apresenta em matéria de
proteção e bem-estar animal. Desde questões relativas ao transporte e à criação de animais, que não têm sido
objeto de intervenção tão recente, quer, em particular, matérias que, entretanto, foram objeto de alteração
legislativa, com a aprovação do novo regime de compra e venda de animais, há muito trabalho ainda a realizar.
Mas um dos aspetos fundamentais que, em particular, é frisado pelos peticionários diz respeito ao quadro
sancionatório — seja ele o quadro contraordenacional, seja ele o quadro penal —, em relação ao qual, já no
passado, o Grupo Parlamentar do PS teve ocasião de sublinhar que ainda não está satisfeito com o quadro que
vigora, uma vez que ainda apresenta muitas dificuldades interpretativas, muitas dificuldades para que os
operadores consigam efetivamente reforçar a proteção penal também no que diz respeito ao bem-estar animal.
E se, no passado, não foi ainda possível alcançar uma maioria no sentido de alterar a lei — e, nesta
Legislatura, o Grupo Parlamentar do PS já o procurou fazer —, é verdade que o PAN recupera muitos destes
elementos, nomeadamente no que respeita ao Código de Processo Penal, pelo que esperamos que possa haver
uma segunda oportunidade para a Assembleia colocar no caminho certo a alteração legislativa transformadora
que realizou em 2015.
No entanto, para além desta iniciativa — e não acompanhamos todos os aspetos, nomeadamente aqueles
relativos ao Direto Penal substantivo, mas podemos ter disponibilidade para, na especialidade, trabalhá-los —,
em relação aos outros dois projetos, trazidos a debate pelo Bloco de Esquerda e pelo PAN, gostaríamos também
de sublinhar o nosso voto favorável no sentido em que apresentam também elementos adicionais relevantes.
No que diz respeito ao projeto do Bloco de Esquerda, porque é, de facto, fundamental reforçar o trabalho que
algumas instituições já fazem — a PSP e a GNR têm dedicado muito trabalho a fazer formação dos seus agentes
e dos seus oficiais e também a procurar sensibilizar as autarquias a olhar para a legislação sobre os maus tratos
e sobre o bem-estar animal de outra forma.