15 DE FEVEREIRO DE 2018
25
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Pode acontecer!
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Se calhar, é preciso fazer uma melhor reflexão: juntar o Sr. Ministro
das Finanças e o Sr. Ministro da Saúde à mesma mesa e, por uma vez, decidirem quais são as vossas
prioridades e darem a cara por elas, porque quem sofre são os doentes e são os utentes todos os dias.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo
de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, trouxe-nos para este debate as
questões da valorização da nossa economia, na sua relação com a inovação, a produção de conhecimento,
tendo como pano de fundo a chamada «revolução tecnológica digital» e com ela a que se convencionou
denominar de revolução industrial 4.0.
O País precisa de avançar no desenvolvimento das suas forças produtivas. Essa é uma componente
essencial no programa de desenvolvimento do País que preconizamos para combater as suas fragilidades, a
sua dependência, os seus défices estruturais, as debilidades dos seus setores produtivos e da economia.
Mas é um desafio que não se confina apenas ao progresso tecnológico e ao desenvolvimento do sistema
científico nacional, mas que exige ser acompanhado por um progresso social e noutros domínios da nossa vida
coletiva. Um desenvolvimento tecnológico e uma dita «revolução digital» que não pode ser quatro em
mecanismos de exploração do trabalho e zero no plano dos direitos ou ser pretexto para novas extorsões de
quem trabalha, incluindo, desde logo, aqueles que produzem ciência, os muitos bolseiros precarizados e que
precisamos de integrar no nosso sistema científico e tecnológico.
E o que vamos vendo e ouvindo cá sobre a necessidade de ajustar e flexibilizar as políticas laborais e sociais
e até a própria política aos domínios do 4.0 coloca um problema central, que é o da apropriação dos ganhos do
desenvolvimento tecnológico que preconizamos e a que aspiramos.
Coloca a questão de saber a quem serve e ao serviço de quem está. Designadamente, se serve uma minoria
ou se está ao serviço da maioria que trabalha e do desenvolvimento geral; se é pretexto para o alargamento e
flexibilização dos horários de trabalho ou oportunidade de promover a redução progressiva dos horários de
trabalho para todos os setores, dando um firme combate à desregulação; se o desenvolvimento tecnológico,
sendo condição para produzir mais, não é também um acrescido suporte para garantir uma segurança social
pública, valorizada com novas formas de financiamento, complementar ao atual regime de contribuições — uma
segurança social capaz de garantir pensões de reforma dignas e um reforçado quadro de proteção social na
doença, no desemprego, na velhice; se o desenvolvimento tecnológico de que o País precisa pode ficar
submetido ao controlo e apropriação privada das multinacionais e monopólios, e com eles o domínio sobre
outros processos económicos e sociais, ou se exige e se assegura a reposição dos sistemas de comando, a
preservação pública das alavancas fundamentais da economia, nomeadamente nos seus setores estratégicos;
se o desenvolvimento tecnológico é fonte de maximização do lucro e da concentração de riqueza nas mãos de
uns poucos ou instrumento para uma mais justa distribuição do rendimento nacional, assente numa maior
valorização dos salários e dos rendimentos do trabalho.
O desenvolvimento tecnológico de que precisamos é aquele que tem o pleno emprego como objetivo
fundamental com uma linha de intervenção planeada, onde está presente uma programação adequada e uma
política de educação e formação profissional, numa perspetiva de formação permanente.
O desenvolvimento tecnológico não pode ser pretexto para, em nome de uma pretensa modernização das
relações de trabalho, impor novas e disfarçadas formas de trabalho precário, mas, antes, possibilidade de
assegurar o direito ao trabalho, acabando com esse flagelo dos vínculos precários.
Para se dar resposta aos problemas que a iminente aceleração do desenvolvimento tecnológico coloca,
importa equacionar estas e outras dimensões, porque a resposta não pode ser parcial, se quisermos construir
uma sociedade que se orienta para a inclusão de todos e onde cada um tenha o direito de viver com dignidade
e não uma sociedade de excluídos do trabalho e da vida, brutalmente injusta e deslaçada e, com certeza,
crescentemente antidemocrática.