15 DE FEVEREIRO DE 2018
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, de novo, a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, sim, cá estaremos para esse
debate mais aprofundado, mas, antes, queria lembrar-lhe que esses fascinantes avanços nos domínios da
ciência e da técnica sempre, mas sempre, beneficiaram apenas uma parte, ou fundamentalmente uma parte,
que foi a do capital e não a do trabalho. É isso que, neste momento, está em causa: saber para onde vai essa
grande conquista dos avanços da ciência e da técnica.
Por falar em trabalho e em trabalhadores, falo também de quem trabalhou. Foi com atraso que se iniciou o
processo de valorização das reformas dos trabalhadores com longas carreiras contributivas. A solução avançada
ficou muito longe daquela que o PCP propunha, a de garantia da reforma, sem penalizações, para todos os
trabalhadores com 40 ou mais anos de descontos. Mas esse primeiro avanço abriu também a perspetiva de uma
solução mais abrangente a breve prazo, anunciando-se outras duas fases de alteração ao regime de pensões
antecipadas.
O Sr. Ministro Vieira da Silva afirmava, nessa altura, esperar que o trabalho para os restantes casos pudesse
ser finalizado em 2017 para que houvesse, e cito, «pelo menos, um primeiro passo» no início de 2018. Essa
declaração confirmava o que constava dos documentos do Governo apresentados aos parceiros sociais com
critérios de valorização das longas carreiras contributivas nas duas fases seguintes.
Aliás, foi também para acautelar que essa resposta urgente se concretizasse que apresentámos uma
proposta no quadro do Orçamento do Estado para 2018, designadamente, consagrando a eliminação das
penalizações referentes à aplicação do fator de sustentabilidade, entre outras. Essa proposta foi recusada pelo
PS.
Sr. Primeiro-Ministro, há dias, uma operária de 61 anos, com 42 anos de descontos, recebendo o salário
mínimo nacional, fez o levantamento da sua carreira contributiva: receberia 415 €, se não houvesse essas
penalizações. Com esse fator de sustentabilidade, a trabalhadora ficou a saber que receberá 293 €. Ninguém,
com certeza, aqui, neste Hemiciclo, é capaz de aceitar isto com justiça, ou seja, que num quadro de 42 anos de
descontos, a trabalhar no duro, se encontre, por parte do Estado, a resposta de 293 € ao fim dessa longa vida
de trabalho.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Creio, Sr. Primeiro-Ministro, que este é um exemplo gritante de que
temos de dar passos adiante na concretização deste direito, um direito daqueles que se querem reformar após
uma vida de trabalho.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, é verdade que os ganhos de
produtividade decorrentes da transformação tecnológica têm de se repartir com maior justiça. Têm de se repartir
com maior justiça, seguramente, no rendimento, mas também têm de se repartir com maior justiça no tempo de
trabalho e na distribuição do trabalho ao longo da vida. Essa é uma das razões pelas quais nós, no Programa
do Governo, enunciámos um princípio fundamental, o da necessidade de diversificação das fontes de
financiamento da segurança social, para que não continuem a assentar, exclusivamente, nas relações laborais,
mas possam ter outras formas de financiamento.
Demos um primeiro passo, em 2017, com a criação do adicional ao IMI (imposto municipal sobre imóveis)
como fonte de financiamento da segurança social. Demos, agora, um novo passo com a primeira fase do
adicional ao IRC (imposto sobre o rendimento de pessoas coletivas) para reverter também para o Fundo de
Estabilização Financeira da Segurança Social. Aliás, o PCP, tem apresentado, repetidas vezes, a ideia de que
deveria haver também uma contribuição com base no valor acrescentado bruto, de forma a, também aí,
encontrarmos novas formas de financiamento da segurança social.