I SÉRIE — NÚMERO 48
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A política de ciência não se faz num dia, faz-se ao longo de décadas e, de facto, se houve uma política de
ciência que permitiu mudar o panorama da nossa ciência em Portugal foi o facto de se ter assegurado a
continuidade das políticas do Prof. Mariano Gago.
Aplausos do PS.
Foi precisamente por ter em atenção a necessidade dessa continuidade que eu, no final do meu discurso,
disse que, de uma vez por todas, temos de nos mobilizar para, de uma forma determinada, persistente e
contínua, construir uma sociedade de conhecimento. O que não podemos voltar a ter é o que a OCDE sinalizou,
ou seja, uma política de stop-and-go, de hesitação sobre qual é a base do nosso desenvolvimento. Ora, de uma
vez por todas, temos de nos fixar em que o modelo e o motor do nosso desenvolvimento não são os baixos
salários, mas sim a inovação. Isso é muito importante, porque quando vemos que de 2010 a 2015 houve um
continuado desinvestimento em investigação e desenvolvimento, percebemos que, para inverter isso, como
começámos a inverter já em 2016, é necessário um grande objetivo nacional, uma grande mobilização do
conjunto do País, para, em 2030, podermos alcançar a meta dos 3% do produto interno bruto, dos quais dois
terços privado e um terço público dedicados à investigação e desenvolvimento.
Aplausos do PS.
E esse compromisso é tanto mais importante quanto, devido ao desinvestimento continuado na anterior
Legislatura, hoje é absolutamente impossível alcançar a meta que tinha sido fixada para 2020.
Significa isto que não podemos estar sempre a parar e a arrancar. É por isso que, na aprovação de uma
estratégia nacional, o conjunto das medidas que temos vindo a adotar são absolutamente cruciais.
E essas passam-se a diversos níveis. Quando vamos alterar as regras discriminatórias do acesso dos alunos
do ensino profissional ao ensino superior, não estamos só a contribuir para democratizar o acesso ao ensino
superior, estamos também a garantir a oportunidade que o País tem de poder ter um leque maior de portugueses
a participar num nível mais elevado da sua qualificação.
E dispormos disso, dessa geração, é fundamental para a construção do nosso futuro. Por isso, tenho dito
muitas vezes que o maior desafio estratégico que temos é não só fixar a geração mais qualificada como também
recuperar aqueles que partiram. E isso passa não só pelo acesso ao ensino superior mas necessariamente,
também, por novas gerações de políticas de habitação, por investir, como estamos a investir, nas políticas
sociais de apoio à primeira infância, nas creches, no novo abono de família, para que as novas gerações tenham
melhores condições de vida em Portugal, tenham mais rendimento disponível, apesar dos salários praticados
em Portugal.
Mas isso passa também por aquilo em que temos insistido, que é a essencialidade de termos melhor
emprego. E quando disse que, este ano, o nosso grande desígnio tem de ser melhor emprego, é porque, de
facto, a precariedade é inimiga da qualidade, os baixos salários são inimigos da qualidade. E se não nos
podemos dar ao luxo de perder esta geração, temos, enquanto sociedade, de produzir boas políticas públicas e
também de ter melhores empresas que percebam que devem ter melhores quadros, mais qualificados, com
melhor formação e com investimento continuado na formação ao longo de toda a vida.
É por isso que é absolutamente essencial fazer esta mudança, e esse é o maior desafio estratégico que
temos pela frente.
Felizmente, sinto e encontro cada vez mais também nas empresas portuguesas esta nova mentalidade. Não
são só as empresas de investimento direto estrangeiro que vêm para cá, porque hoje temos os recursos
humanos que antes não tínhamos e que lhes permite hoje instalarem-se aqui, em Portugal, e fixarem aqui esses
recursos que temos, mas são também as empresas portuguesas que percebem que hoje essa qualificação é
absolutamente essencial.
Por isso, os Laboratórios Colaborativos (CoLAB) são da maior importância porque aproximam as empresas
dos centros de produção de conhecimento. Ora, os centros de produção de conhecimento e essa proximidade
com o tecido empresarial são importantes não só para a indústria do espaço, mas também para a cultura de
montanha, para a agricultura de precisão, para a melhoria da qualidade do que se produz no solo.