I SÉRIE — NÚMERO 50
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Para finalizar, também devo dizer que, mesmo em relação à agricultura, em vez de monoculturas que
carecem de um grande consumo de água, é preciso apostar numa estratégia de adaptação tecnológica para a
poupança da água, mas também de adaptação das novas espécies, e não continuar com a efabulação do
regadio, dizendo que vai resolver os problemas da seca. Como é evidente, é uma contradição nos próprios
termos.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem mesmo de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. PedroSoares (BE): — Vou mesmo terminar.
Sr.ª Deputada, tenhamos uma outra visão para a agricultura que não seja apenas a do agronegócio e a das
grandes explorações e privilegiemos a pequena agricultura e a agricultura familiar, a dos pequenos proprietários,
a dos pequenos produtores, através de circuitos curtos, poupando na água e o ambiente.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, agradeço ao Deputado João Ramos e ao Deputado
Pedro Soares a oportunidade que me dão de explicar algumas matérias que, por falta de tempo, não tive
oportunidade de explicar na minha intervenção inicial.
Srs. Deputados, aquilo que separa o CDS do Bloco de Esquerda e do PCP, é, de facto, muito grande. Os
senhores estão amarrados ao passado, a uma agricultura de há 50 anos, do século passado, e não devem ter
ouvido bem aquilo que eu disse da tribuna, porque o que nós defendemos, e foi isso que coerentemente fizemos,
é que se deve apoiar a agricultura competitiva, mas também aquela que é mais pequena, que ocupa o território
e que presta serviços de ecossistemas.
A grande diferença — e já tive oportunidade de o dizer neste Plenário mais do que uma vez — é que os
senhores só defendem a agricultura pequenina e nós entendemos que há espaço para as duas e que ambas
são importantes. Isso é que nos separa.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Srs. Deputados, de facto, não consigo entender esta estranha forma
de combate às alterações climáticas. Para combater as alterações climáticas, em vez de se regar, vamos deixar
as culturas morrerem à sede e, qualquer dia, Portugal vai ser uma extensão do deserto do Sara?
Gostaria, talvez, de ouvir os Srs. Deputados dizerem…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Já o chamaram de deserto!
Protestos do PCP.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Oiçam, Srs. Deputados!
Se, em vez de defenderem uma agricultura do século passado, os Srs. Deputados defendessem a inovação
e o aumento da eficiência, talvez pudessem vir defender a eficiência dos regadios tradicionais que têm perdas
elevadíssimas…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Vá ver o olival do Alqueva!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — O Alentejo não é só o Alqueva, Sr. Deputado João Oliveira, e o Sr.
Deputado sabe isso, certamente, muito bem.
Sr. Deputado Pedro Soares, sou defensora, tal como o CDS, do montado de sobro e da floresta autóctone,
mas, apesar de a bolota se poder comer, efetivamente, nós não nos alimentamos de bolota e de cortiça e,
portanto, é necessário mais qualquer coisa na agricultura deste País.