2 DE MARÇO DE 2018
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Acresce a isso medidas mais permanentes, quer no âmbito do processo administrativo e fiscal, quer no
domínio cível, como a criação de juízos especializados nos tribunais administrativos e fiscais, permitindo separar
as causas mais simples das mais complexas, e a obrigatoriedade de submeter aos julgados de paz as causas
da sua competência.
Entendemos que os julgados de paz devem ser uma verdadeira alternativa aos tribunais, retirando a estes o
tratamento das questões mais simples. Aí, nos julgados de paz, poderão julgar-se questões relativas a
condomínios ou a contratos, dando apenas dois exemplos, sendo certo que, para isso, não só é preciso que o
Governo amplie a respetiva rede, como terão de ser revistas algumas condições, designadamente a da formação
dos juízes de paz.
Note-se bem que, à semelhança do que acontece nos tribunais judiciais, passa a ser obrigatória a
constituição de advogado para causas superiores a 5000 €, sendo recorríveis todas as decisões a partir dos
2500 €.
Ou seja, é tratar de forma simples o que é simples, não diminuindo em nada as garantias de que atualmente
dispõem as partes.
Aplausos do CDS-PP.
A eficácia, essa, atinge-se com a contratação de assessores especializados para os gabinetes de apoio aos
magistrados, que devem ser constituídos rapidamente, pelo menos onde haja mais necessidades —lembro-me,
por exemplo, dos tribunais administrativos e fiscais e dos tribunais de comércio —, ou ainda com a fixação de
objetivos de gestão nos tribunais administrativos e fiscais, com controlo trimestral das pendências e, claro, com
o desenvolvimento de meios tecnológicos e digitais, que também instamos o Governo a incrementar.
No que à transparência concerne, propomos duas coisas muito simples mas reveladoras.
Em primeiro lugar, propomos que o Governo, tal qual acontece anualmente com a segurança interna,
apresente um relatório sobre o estado da justiça ao Presidente da República e à Assembleia da República. Esse
relatório deve conter informação sobre pendências, instalações e meios humanos e materiais. No fundo, deve
condensar a informação dispersa por vários relatórios e permitir um escrutínio rigoroso por parte da Assembleia
da República.
Em segundo lugar, propomos que apresente um outro relatório sobre o sistema prisional que dê a conhecer
as condições de detenção dos reclusos e instalações, os investimentos previstos e os meios humanos e
materiais alocados.
Friso que a necessidade destes relatórios é meridianamente evidente, mas, para os mais distraídos ou
incautos, limito-me a lembrar a notícia que saiu há dois dias que dá conta de que o Comité para a Prevenção
da Tortura fez um retrato muito negativo das prisões portuguesas e que, por isso mesmo, merece uma atenção
particular de todos nós, pelo que o escrutínio é um elemento essencial.
Finalmente, e não menos importante, evidencio três garantias dos cidadãos que nos parecem de elementar
justiça acautelar: desbloqueio, em 10 dias, dos montantes penhorados em excesso quando haja penhoras de
vários depósitos bancários, sob pena de responsabilidade civil para quem não o faça; alargamento das
possibilidades de impugnação das decisões da Autoridade Tributária ou a constituição de uma comissão de
revisão da legislação penal, designadamente para revisitar as regras do segredo de justiça ou para fixar um
prazo máximo para a duração do interrogatório do arguido.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, nem tudo será consensual, nem tudo estará absolutamente certo e
nem tudo será imediatamente exequível e muito menos temos a pretensão de achar que só nós é que sabemos
ou que só nós é que trazemos boas soluções.
O que queremos é deixar o nosso contributo para melhorar a qualidade da justiça portuguesa, para uma
justiça mais rápida, mais efetiva e que, sobretudo, não deixe a sensação de que já não há remédio.
Aplausos do CDS-PP.
Muitas das medidas que propomos agora, ou que propusemos no passado e que estavam à espera
precisamente deste debate — refiro o projeto de resolução que apresentámos no ano passado sobre o acesso