14 DE ABRIL DE 2018
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Hoje, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista assume a responsabilidade de fazer e de continuar a fazer
este caminho que, para além da lei, tem de ser trilhado nas escolas, nos serviços de saúde, na alteração das
mentalidades, para que um dos grupos mais estigmatizados e mais discriminados da sociedade portuguesa e
do mundo possa viver em paz, sabendo quem é, sem ter mais a ofensa do Estado dizer-lhes: «têm de ser outros
a dizerem, por vós, quem vocês são».
Muitos parabéns aos que aqui estão e a todos os que vieram antes de vós. Deixo, ainda, uma palavra de não
esquecimento a todas aquelas pessoas que não conseguiram e que não chegaram a este momento.
Aplausos do PS, do BE e da Deputada do PS Helena Roseta, de pé.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma declaração de voto, a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No final da votação que
acabámos de fazer, Os Verdes gostavam apenas de realçar que o sentido e a carga do seu voto se regeram
pelo combate que aqui fazemos à não discriminação.
É este o caminho que procuramos sempre trilhar também aqui, na Assembleia da República, no respeito
pelos direitos humanos, no respeito permanente pela dignidade da vida das pessoas, neste caso também,
evidentemente, no respeito pela sua autodeterminação e pela sua identidade.
É por isso que gostaríamos de assinalar, Sr.as e Srs. Deputados, que, através do seu voto, Os Verdes também
consideram que deram um passo importante neste sentido. Houve um trabalho feito em sede de especialidade,
afincado e com o contributo de vários grupos parlamentares. Acho que foi um trabalho muito importante, foi um
caminho que também se trilhou aqui, no Parlamento, no sentido de chegarmos, justamente, àquilo que hoje se
conseguiu realizar em Portugal.
Muito obrigada e um bem-haja.
Aplausos de Os Verdes, do PS e do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma declaração de voto, a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saúdo, antes de mais, as pessoas
trans, presentes nas galerias, bem como as associações representativas das pessoas LGBTI e todas as pessoas
trans que, não estando aqui nas galerias, estão lá fora, expectantes, à espera do resultado histórico que hoje
conseguimos neste Parlamento.
Este é, de facto, mais um avanço no respeito por direitos humanos fundamentais, que é o respeito pelo direito
à autodeterminação de género, um direito que é reconhecido a qualquer um ou a qualquer uma de nós, quase
automaticamente, mas que é negado sempre que o corpo não coincide com o género com que a pessoa se
identifica.
A descida da idade para os 16 anos no acesso à alteração do registo, no cartão de cidadão, do nome e do
género com que a pessoa se identifica significa também que reconhecemos que o sofrimento que os jovens
atravessam e enfrentam quotidianamente, no seu dia a dia, a não aceitação, a discriminação, a violência, não é
tolerável nesta Casa, neste Parlamento, e neste País.
Reconhecemos que poderíamos ter ido mais longe. O Bloco de Esquerda considera que as propostas que
não foram integradas também reconheciam o acesso à lei não só por parte de imigrantes e de requerentes de
asilo como também por parte das crianças menores de 16 anos. E aqui, sim, ter-se-ia, de facto, ido mais longe,
no que diz respeito a consagrar direitos a crianças que estão agora a ser consagrados aos adultos.
De qualquer forma, este é um avanço absolutamente extraordinário, histórico, que se refere ao mais
elementar respeito pelo direito de todas as pessoas trans à sua autodeterminação de género.
É, de facto, um momento histórico e eu estou um pouco emocionada e à procura das palavras.
Agradeço, mais uma vez, todo o trabalho, todo o empenho que várias pessoas, vários coletivos e várias
organizações tiveram, desde o início, desde a elaboração deste projeto que o Bloco de Esquerda entregou nesta
Casa, em maio de 2016, já faz dois anos.