26 DE ABRIL DE 2018
27
É verdade que estamos longe do valor de 11% de défice, que foi registado em 2010, e que foi reduzido para
3% em quatro anos, e é também verdade que hoje o valor é mais baixo. Mas, na realidade, Sr.as e Srs.
Deputados, ainda temos défice, pelo que qualquer ideia sobre a existência de uma folga é pura ficção.
Segundo, Portugal registou em 2017, se retirarmos os valores referentes à entrada de capital na Caixa Geral
de Depósitos, um valor para o défice de cerca de 0,9% do PIB. Se não mantivéssemos uma trajetória de redução,
isso daria um mau sinal sobre o nosso País, afetaria a credibilidade de Portugal e teria consequência direta nos
custos do nosso financiamento.
Se temos vindo a fazer poupanças significativas no volume de juros pagos pelo capital em dívida, seria quase
criminoso pôr isso em causa, invertendo em 2018 o rumo de redução e de eliminação do défice público.
Terceiro, é especialmente numa fase favorável, de crescimento económico, com uma conjuntura externa
propícia, que se devem desenvolver os maiores esforços para alcançar essa redução. Aliás, se não
aproveitarmos esta fase para reduzir e anular o défice público, então, dificilmente alguma vez o faremos. Claro
que lamentamos o quão modesto é o processo de consolidação em 2018 e 2019, que assenta essencialmente
na redução do montante de juros…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Para o PSD ainda é pouco!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … e no efeito estatístico do crescimento da economia.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD tem várias discordâncias com aquilo que o Governo apresenta
neste Programa de Estabilidade — …
O Sr. João Oliveira (PCP): — Até agora não parece!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … a ausência de medidas de reforma da economia, de incentivo à
poupança, de aumento da produtividade, de fomento da natalidade, o prosseguir de uma política de investimento
público que condiciona e degrada a qualidade dos serviços, levando-os a uma situação de penúria e de falhanço
do próprio Estado, seja na proteção civil, na saúde, na educação, só para dar alguns exemplos.
Mas a divergência mais profunda com a proposta do Governo está na continuação de uma política que
mantém a carga fiscal em valores record. Na realidade, o Governo segue uma estratégia bem firme de aumento
de impostos, de aumento da carga fiscal.
Sem complexos, afirmamos que nós, no Governo, estaríamos a proceder a uma descida gradual da carga
fiscal. E isto é coerente com a nossa atuação no Governo, pois, passado o pico da crise, foi o que fizemos ao
nível do IRC e hoje estaríamos também a fazê-lo ao nível da fiscalidade das famílias.
A estratégia governamental de manter a carga fiscal é errada, por duas razões: primeiro, porque uma redução
do défice baseada essencialmente no aumento de impostos não é uma consolidação sustentável; segundo,
porque uma carga fiscal tão elevada como a que Portugal regista afeta a competitividade da economia,
impedindo-a de atrair investimento e de potenciar mais crescimento.
Reafirmo, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, que uma estratégia de redução da carga fiscal, primeiro
nas empresas e depois nas famílias, é a mais correta para promover o crescimento económico e o
desenvolvimento social que todos ambicionamos. E, Srs. Deputados, isto não é retórica política nem discurso
de oposição.
Vamos aos factos, pois a realidade é o que é: o País está anestesiado com o crescimento de 2,7% da nossa
economia ocorrido em 2017. É um bom valor, em termos absolutos — ninguém o nega —, mas é preciso também
registar que, em termos relativos, dos 27 Estados-membros da União Europeia 19 cresceram mais do que
Portugal. Esta é a verdade!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sempre vão apoiar o Governo nas votações!…
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Mas em 2018 a situação é semelhante — a Comissão Europeia prevê que
21 países da União cresçam mais do que Portugal. E se formos para o período em análise, até 2023, o FMI
prevê que, na zona euro, só a Itália cresça menos do que Portugal.