5 DE MAIO DE 2018
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Com a nossa proposta, revogamos uma lei injusta, desequilibrada e que assenta na especulação imobiliária
para favorecer os interesses dos fundos especulativos e dos grupos económicos. Com a nossa proposta, é
extinto o balcão dos despejos e todos os mecanismos que facilitam o despejo, voltando a ação de despejo à via
judicial, onde os direitos dos inquilinos são mais protegidos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Com a nossa proposta, retomamos os instrumentos que impedem a total
liberalização dos valores de renda e propomos ainda a suspensão da atualização dos valores de renda.
Sem prejuízo de um debate mais profundo a realizar no âmbito da especialidade, há alguns aspetos que
queremos referir em relação às propostas que estão também hoje em discussão na Assembleia da República.
O papel do Estado na política de habitação não pode continuar a ser secundarizado ou remetido para uma
intervenção ao nível da política fiscal, como resulta das propostas apresentadas pelo Governo. A solução para
o arrendamento não passa pela atribuição de borlas fiscais aos proprietários mas, sim, pela rutura com os
interesses especulativos instalados e com os interesses dos grupos económicos responsáveis pelas dificuldades
no acesso à habitação, passa por uma intervenção direta do Estado na política de habitação. Ao deixar isso nas
mãos do dito «mercado» e dos interesses privados, já se viu que não se resolvem os problemas de acesso à
habitação com que hoje nos confrontamos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Na relação senhorio/inquilino é preciso proteger a parte mais desfavorecida,
os inquilinos, que são, sem dúvida, os moradores com mais de 65 anos, os moradores com incapacidade
superior a 60%, mas são também, não temos dúvidas, as famílias com rendimentos mais reduzidos e todas as
famílias, porque nesta relação o que se deve proteger é o direito à habitação. Por isso, consideramos
insuficientes as propostas que visam proteger somente uma parte.
Será que uma família cujos moradores tenham idades a partir de 40 anos não merece proteção? E os jovens
e as famílias que pretendem constituir família, ou já a constituíram, não merecem também proteção e ver
salvaguardado o seu direito à habitação?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — O direito a uma habitação condigna, confortável e de dimensão adequada em
função do agregado familiar tem de ser protegido e defendido para todos: para os jovens, para a população
trabalhadora, para os idosos, para as pessoas em situação de maior fragilidade. Também por isso a proposta
que trazemos a debate é bem mais abrangente e dá resposta não a algumas situações mas a toda a dimensão
do arrendamento urbano.
Manifestamos a nossa disponibilidade para, na especialidade, aprofundar esta discussão e manifestamos
também que o nosso compromisso e intervenção é o de que, dada a urgência da situação em que se encontram
os inquilinos, é premente travar os despejos e defender o direito à habitação.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — As Sr.as e os Srs. Deputados vão desculpar a insistência da Mesa
mas, na verdade, há uma efervescência francamente desaconselhável para que nos possamos ouvir.
Queria também solicitar às Sr.as e aos Srs. Deputados que valorizassem devidamente um espaço desta nossa
Assembleia chamado Passos Perdidos, que é uma sala notável, um espaço magnífico, e que se destina
justamente e historicamente a que todas as interlocuções possam ser feitas à vontade e com o nível de decibéis
que é ajustado à intensidade de cada uma dessas interlocuções.
Portanto, com toda a franqueza, e não levem a mal, peço a todas as Sr.as e a todos os Srs. Deputados o
favor de permitirem que haja um clima acústico e logístico adequado à dignidade que é exigível aos nossos
debates. Peço imensa desculpa por insistir, mas, na verdade, não posso deixar de o fazer.