6 DE JULHO DE 2018
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Para além disso, é ainda necessário ter presente a degradação acentuada dos direitos dos trabalhadores a
que o Governo tarda em dar a resposta adequada. Falamos de matérias como a destruição do vínculo público
ou a degradação das carreiras profissionais dos trabalhadores da saúde.
Isto já para não referir o recurso abusivo à precariedade contratual, que continua a ser um expediente feito
das mais variadas formas, como a utilização dos recibos verdes, a contratação à hora, a contratação a termo, e
por aí fora. São situações que, para além de se arrastarem no tempo e de arrastarem falsidades nas relações
laborais, são ainda grosseiramente ilegais, matéria sobre a qual o Estado deveria, aliás, dar o exemplo.
Por isso, Os Verdes consideram que o reforço da contratação de profissionais da saúde, bem como a
valorização profissional e remuneratória destes profissionais são imprescindíveis para a própria sobrevivência
do SNS com o padrão que os portugueses merecem e a que têm direito.
O Serviço Nacional de Saúde representa muito para os portugueses. É demasiado importante para continuar
neste caminho de fragilização. Se, através do SNS, conseguimos melhorar substancialmente os indicadores de
saúde em Portugal, se conseguimos melhorar a saúde e a qualidade de vida dos portugueses, o seu reforço
tem de estar no topo das prioridades políticas.
Mas o Governo não tem dado sinais dessa prioridade, como, de resto, mostra a forma como planeou a
entrada em vigor das 35 horas semanais. Trata-se de uma situação que exige respostas imediatas sob pena de
se agravar a situação das listas de espera, os adiamentos de cirurgias ou, até, de se potenciarem as
probabilidades de erros graves no tratamento dos doentes. De facto, parece que só o Governo não antecipou o
cenário que hoje se vive nos hospitais, e não foi por falta de aviso!
Sr. Ministro, a passagem para as 35 horas não foi uma gripe que apareceu de repente. Estamos a falar de
uma medida que estava prevista desde 2017. No entanto, o Governo só anunciou a contratação de mais 2000
profissionais uma ou duas semanas antes da entrada em vigor dessa medida. Ou seja, o anúncio desta
contratação ocorre a escassos dias de as 35 horas entrarem em vigor e num período que normalmente exige
uma gestão de recursos humanos mais delicada porque é exatamente o período de férias.
No mínimo, faltou planeamento, ou, se o houve, foi manifestamente desajustado e absolutamente
insuficiente. E apesar de o Sr. Ministro da Saúde ter garantido, em meados de junho, que o plano do Ministério
estaria em condições de ser executado, o que é verdade é que o regime entrou em vigor e muitas entidades
públicas empresariais de saúde continuam a manter as escalas de 40 horas semanais, como se, entre 30 de
junho e 1 de julho, nada se tivesse passado.
E o pior é que não foi dada qualquer indicação aos trabalhadores de que essas 5 horas a mais lhes seriam
pagas como trabalho extraordinário. Ora, isto é absolutamente incompreensível. E é incompreensível, desde
logo, porque a redução do tempo de trabalho terá de transportar consigo reflexos positivos nos serviços de
saúde, nos doentes e nos profissionais de saúde.
Este é um dos desafios que Os Verdes pretendem lançar ao Sr. Ministro da Saúde, nesta interpelação: saber
como é que o Governo vai garantir que a passagem para as 35 horas semanais terá impactos positivos nos
serviços de saúde, nos doentes e nos profissionais de saúde.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — É isto que hoje interessa saber.
Sem pretender desvalorizar, bem pelo contrário, a contratação dos 2000 profissionais prevista para este mês,
sempre teremos de dizer que, para além de tardia — muito tardia, aliás —, esta medida é absolutamente
insuficiente para dar resposta às necessidades.
Na verdade, faltam cerca de 6000 profissionais de saúde para o pleno funcionamento dos serviços. O
Governo tinha afirmado que contratava agora 2000 e lá para setembro ou outubro contrataria mais profissionais.
Sucede que ontem, na Comissão de Saúde, o Sr. Ministro veio dizer-nos que provavelmente não haveria
condições para contratar os profissionais necessários.
Ora, a confirmar-se este recuo do Governo, significa que vão continuar a estar em causa a qualidade dos
serviços prestados, as listas de espera, a realização de cirurgias e o recurso a horas extraordinárias, tantas
vezes, sem serem pagas.