I SÉRIE — NÚMERO 104
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ao problema da crueldade e maus tratos que hoje existe com as touradas e, nesse sentido, poderão continuar
a existir.
Caso não haja esta progressão civilizacional, não restará outra opção além de abolir as touradas.
Deste modo, face aos argumentos acima aduzidos, optamos pela abstenção relativamente a este projeto de
lei.
Os Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, Paulo Trigo Pereira — Alexandre Quintanilha.
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1 — As touradas fazem da violência sobre os animais um espetáculo.
Começam, precisamente, por não respeitar o bem-estar animal, agredindo-os e provocando-lhes ferimentos.
Depois, naturalizam e exaltam o exercício dessa mesma violência.
Tal contraria os avanços civilizacionais que vêm conduzindo a um crescente respeito pelos animais
sencientes e pelo seu bem-estar, seres conviventes e parceiros dos humanos.
2 — As touradas são uma prática ancestral, com raízes fundas nas vivências rurais e nas relações que
milenarmente aí se estabeleceram entre os animais e o homem. Essas relações modelaram visões e práticas
que, naturalmente, irão desaparecendo, mas que são ainda hoje socialmente aceites em regiões do nosso País.
3 — Nestas circunstâncias, pretender impor comportamentos pela via proibicionista é muitas vezes
profundamente incompreendido. Poderá, inclusivamente, ter o efeito contrário, com renovado empenho no que
por muitos ainda é considerado como a «defesa das tradições».
De resto, a via proibicionista revela uma menorização dos aficionados das touradas, todos liminarmente
considerados «uns bárbaros» incapazes de evoluir nas suas convicções e nos seus gostos. Em nome de uma
justa defesa dos animais, revela-se aí um inaceitável desrespeito pelas pessoas, tomadas por irrecuperáveis e
definitivamente insensíveis.
4 — As iniciativas de sensibilização e as manifestações promovidas pelas organizações de defesa dos
animais vêm-se revelando eficazes e vêm provando exatamente o contrário, com a progressiva redução do
número de aficionados e a realização de menos espetáculos taurinos. Políticas como defende o Bloco de
Esquerda, de não concessão de apoios públicos a touradas e de restrições à sua difusão televisiva também
concorrerão eficazmente nesse sentido.
5 — Nestas circunstâncias, em que, não aprovando a realização de touradas também não me revejo na via
proibicionista, optei pela abstenção na votação do projeto de lei n.º 879XIII (3.ª) que «Determina a abolição de
corridas de touros em Portugal.»
O Deputado do BE, Carlos Matias.
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Pelo presente projeto de lei o PAN pretendeu «a abolição de corridas de touros em Portugal», tendo-o feito,
por um lado, sem rigor legislativo, por outro lado, visando a proibição das touradas, algo com que não concordo.
Entendo que os espetáculos tauromáquicos, que ritualizam o sofrimento do animal e são vistos como arte,
não deveriam existir nos dias de hoje.
No entanto, esta minha visão não pode sobrepor-se à liberdade que qualquer pessoa tem de assistir a tais
espetáculos.
Não obstante o acima referido, o meu partido e a direção de bancada fizeram questão de aconselhar o voto
contra, facto que entendi ser meu dever aceitar, independentemente de, como já referi, não me rever nos
espetáculos tauromáquicos.
O Deputado do CDS-PP, João Rebelo.
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