6 DE OUTUBRO DE 2018
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O Sr. Presidente: — Bom dia, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas.
Está aberta a sessão.
Eram 10 horas e 5 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrirem as portas das galerias ao público.
Da nossa ordem do dia consta um debate, ao abrigo da alínea b) do n.º 3 do artigo 64.º do Regimento, sobre
a qualidade da resposta dos serviços públicos, agendado pelo PSD.
Para abrir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro do Ó Ramos.
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Ex.mo Sr. Presidente, Srs. Deputados: A semana que decorre ilustra
bem o que vimos aqui hoje denunciar — a diminuição clara da qualidade dos serviços públicos.
No dia 1 de outubro, segunda-feira, iniciou-se uma greve dos trabalhadores das bilheteiras e revisores da CP
(Comboios de Portugal). Consequência: encerramento de 85% dos locais de venda de bilhetes e afetação da
circulação ferroviária, com alterações no percurso dos utentes.
Greve na CP deixou circular pouco mais do que serviços mínimos. Apenas 28% dos comboios circularam —
leu-se por toda a imprensa.
Igualmente no dia 1 de outubro, teve início uma nova greve dos professores. Consequência: milhares de
alunos sem aulas.
Estas greves e protestos vêm na sequência de muitas outras ocorridas este ano: dos enfermeiros, em junho,
em agosto e em setembro e com agendamentos para outubro; dos médicos, em maio; dos técnicos de
diagnóstico e terapêutica, em maio, em junho e em julho. Consequência: consultas, operações e exames não
realizados nas datas previstas.
Estas paralisações dos serviços públicos somam-se às ocorridas em 2017, que afetaram vários serviços,
designadamente o atendimento nos balcões da segurança social, nas repartições de finanças, nas lojas do
cidadão, para além da saúde, educação e transportes.
Este é o estado dos serviços públicos em Portugal, é o retrato da sua degradação, sendo enorme a
indignação e a desmotivação dos funcionários, que veem de dia para dia o colapso dos serviços.
Essa degradação é visível e sentida pelos cidadãos nas mais diversas áreas.
Senão, vejamos: na área da saúde, entre meados de 2015 e final de 2017, o número de utentes em lista de
espera para cirurgia aumentou mais de 30 000 e o tempo médio de espera para a realização de uma primeira
consulta de especialidade hospitalar passou de 115 dias para 121 dias. A par desta degradação para o utente,
o SNS (Serviço Nacional de Saúde) viu a sua dívida aumentar 40% entre dezembro de 2015 e março de 2018.
Também os pagamentos em atraso dos hospitais EPE (Entidade Pública Empresarial) registaram uma
enorme subida nos últimos dois anos e meio, tendo passado de 458 milhões de euros, em dezembro de 2015,
para 705 milhões de euros, em março de 2018 — um aumento de 56%, repito, um aumento de 56%!
A recente missão de mais de 50 diretores e chefes de serviço do hospital de Gaia em protesto contra a falta
de condições, que se arrasta há meses, é mais um exemplo do caos que o setor da saúde vive nestes dias.
Na área dos transportes, Reclamações nos transportes públicos aumentaram 38,9% em 2017 — este foi o
título de diversas notícias aquando da divulgação de um relatório da Autoridade da Mobilidade e dos
Transportes, em junho de 2018.
Em média, são 167 reclamações por dia. A CP lidera a lista de queixas com cerca de 66 por dia, mas também
o Metropolitano de Lisboa, a Carris (Companhia de Carris de Ferro de Lisboa), a STCP (Sociedade de
Transportes Coletivos do Porto) são alvo de queixas acrescidas pelos utentes.
Entre as principais razões de insatisfação, estão a supressão de carreiras, o incumprimento do horário de
paragens, os preços dos bilhetes, as dificuldades de aquisição e de validação dos títulos de transporte por mau
funcionamento das máquinas de venda e o deficiente atendimento ao cliente.
Aparentemente, o cenário de queixas agravou-se: no primeiro semestre de 2018, no Portal da Queixa, as
reclamações contra a CP aumentaram 89% e é o próprio regulador que tem dúvidas sobre se as obrigações do
serviço público estão a ser cumpridas.