I SÉRIE — NÚMERO 13
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para apresentar a iniciativa do CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado
Filipe Anacoreta Correia.
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar,
quero cumprimentar o Partido Socialista por este agendamento e também o PSD e o PAN pelas propostas que
apresentaram.
Não é possível fazer-se um debate sobre esta matéria sem termos, em primeiro lugar, consciência da
importância e da gravidade do que estamos a falar. Estamos a falar de crianças e de jovens em risco e estamos
a falar de medidas dirigidas àqueles que, de entre nós, são os mais vulneráveis num determinado momento da
sua vida.
Estamos a falar de medidas relativas a retirar crianças do seu meio familiar e, de entre estas, o legislador
prevê, fundamentalmente, duas: uma, de institucionalização em lar residencial e, outra, de acolhimento familiar.
Ao debatermos estas medidas, o que é estranho é não sentirmos, em primeiro lugar, um grande espanto, um
choque pela desproporção gravíssima que existe entre o recurso ao acolhimento familiar e o recurso a lar
residencial. Em todos os países ocidentais civilizados essa proporção de crianças em acolhimento familiar é da
ordem dos 50% a 90% e em Portugal essa percentagem é de apenas 3%, ou seja, 97% das crianças em medida
de colocação são orientadas para lares residenciais, para acolhimento residencial, para a institucionalização, e
não para o acolhimento familiar.
Isso é tão grave e tão sem sentido que deveria merecer, da parte de todos os partidos aqui representados,
um empenho efetivo para que se altere essa medida.
Sr.as e Srs. Deputados, ainda no início deste mês, na cidade do Porto, teve lugar um congresso internacional
de especialistas sobre estas matérias ligadas às políticas de crianças e jovens em risco. E quando, na sessão
inaugural, os especialistas, técnicos vindos de todo o mundo, se deram conta da realidade portuguesa
acordaram em intervenções que depois se concretizaram numa petição, num manifesto subscrito por todos os
especialistas — mais de 700 — ali presentes, dirigido ao Governo e ao Presidente da República, para que se
inverta esta situação que coloca Portugal na cauda do mundo civilizado.
Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, o que estamos aqui a discutir não é apenas uma ou outra lei do ponto de
vista fiscal, que nós subscrevemos, mas, sobretudo, a atenção que esta matéria deve merecer de todos os
partidos para inverter esta situação e colocar realmente o acolhimento familiar na prioridade que deve ter como
solução primeira para as crianças que são retiradas à sua família e que devem ser colocadas, sim, mas em
ambiente familiar. Isso não está a acontecer, Sr.as e Srs. Deputados. Há famílias que querem dar acolhimento
familiar e o Governo não dá resposta.
Esta não pode ser uma matéria partidária, tem de ser transversal. Temos de inverter esta situação, que é
grave. Quem está em causa são as crianças mais vulneráveis, são as crianças e os jovens em risco.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, vamos prosseguir com as intervenções.
Tem a palavra, para o efeito, a Sr.ª Deputada Sandra Cunha, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados: Ainda que o número de
crianças acolhidas pelo Estado no âmbito de processos de promoção e proteção tenha vindo a decrescer ao
longo dos últimos anos em Portugal, existem ainda mais de 8000 crianças institucionalizadas no nosso País.
Proteger passa, muitas vezes, e infelizmente, pela opção de institucionalizar, como se fossem as crianças as
agressoras e não as vítimas.
São amplamente conhecidos os impactos negativos que a institucionalização tem no desenvolvimento das
crianças, na sua capacidade de integração social. E sabemos também como, muitas vezes, os ciclos de
marginalização e de exclusão se repetem nestas crianças.
Portugal regista, a nível europeu — e já aqui foi referido —, das mais altas taxas de acolhimento institucional
— ou residencial, como agora se chama —, contrariando as recomendações internacionais em matéria de
direitos e proteção das crianças, que sistematicamente alertam para a necessidade de cumprir o direito das