10 DE MAIO DE 2019
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O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Está, assim, encerrado o debate, na generalidade, da Proposta
de Lei n.º 189/XIII/4.ª.
Passamos agora à apreciação do Relatório de Atividades e Contas da ERC (Entidade Reguladora para a
Comunicação Social) de 2017.
Srs. Deputados, a Mesa não regista, para já, nenhuma inscrição.
Pausa.
Entretanto, surgiram três inscrições, pelo que podemos iniciar o debate, mas peço aos grupos parlamentares
que procedam às respetivas inscrições.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Magalhães.
O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, deixo três notas sobre o Relatório de
Atividades e Contas da ERC, que sintetizo assim: «o que a gente andou para aqui chegar», «2017 em flashback»
e «o que vem aí».
«O que a gente andou para aqui chegar» é uma forma de dizer que apreciamos este Relatório da ERC
quando o ano de 2019 já vai quase a meio, ou seja, já sabemos tudo sobre 2017, já temos relatórios sobre o
serviço público de rádio e televisão em 2018 e, em 2019, temos acompanhado, na Comissão de Cultura,
Comunicação, Juventude e Desporto, a situação dos media portugueses, e há mudanças.
O setor público deu um grande salto na oferta de serviços digitais, tão grande que as novidades estão muito
mal publicitadas.
A RTP deu um lucro de 330 000 €.
Deixou de andar por aí gente a bradar pela privatização da televisão e da rádio.
A Lusa está em boas mãos e deixou de ser uma dor de cabeça — até faz uma campanha contra fake news
—, o problema é a disrupção digital.
Isso leva-nos à segunda nota: «2017 em flashback».
Em 2017, acabou um ciclo de vida da ERC e começou outro. O ano ficou marcado por um mega
«inconseguimento» incrível, que o Relatório resume assim: quanto à aquisição do Grupo Media Capital pela
MEO/Altice, «(…) o Conselho Regulador declarou não ter um entendimento unânime sobre os riscos
sistematizados para o pluralismo no setor da comunicação social em Portugal e nessa medida não ter obtido
um consenso sobre o sentido da pronúncia da Entidade relativamente ao projeto de aquisição.» Se atuássemos
assim em relação à legislação, não legislaríamos e teríamos leis «inconseguidas» umas atrás das outras.
A formulação é absolutamente retorcida e revela uma época triste. A operação soçobrou, mas não graças à
ERC, que falhou clamorosamente o teste, num dos domínios que levaram à sua criação.
Cobrou 19 753, 01 € de coimas, o que ou indicia falhas outras ou prova que reina nos nossos media uma
obediência exemplar à lei, que é uma coisa que nenhum de nós constata, mas enfim…
Risos do PS.
O ano de 2017 foi o ano do registo eletrónico de publicações, ponto positivo, mas criou-se um portal de
reporte de dados de transparência que, ao contrário do que se diz, não é acessível aos cidadãos, para saberem
os fluxos financeiros, como, por mero engano, o Dr. Poiares Maduro diz, porque acredita na lei que ajudou a
fazer, mas não tem em conta que ela não está a ser aplicada. Há, até, alguns dos visados que pedem para
conservar dados confidenciais, para que nem a ERC, regulador, os conheça, o que acho uma coisa
verdadeiramente espantosa.
Portanto, o Sr. Presidente da Assembleia da República, que foi atacado brutalmente quando criticou o facto
de não se saber quem são os proprietários de determinados meios de comunicação social — que se sabe que
praticamente não vendem nada e continuam a aparecer nos escaparates —, andou bem e pôs o dedo numa
enormíssima ferida.
Por último, última nota: «o que vem aí».