6 DE JUNHO DE 2019
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científica. Só quando o problema verdadeiramente bate à porta é que muitos começam a despertar para ele e
esse desprezo pela urgência de medidas a tomar gerou vulnerabilidades e riscos que poderiam ter sido evitados
ou, pelo menos, minimizados.
O que a comunidade científica deixa claro é que se o aumento da temperatura média no planeta se situar
acima dos 2ºC, em relação à era pré-industrial, as consequências podem ser dramáticas e catastróficas. Todos
temos bem presente a devastação provocada pelo ciclone Idai, em Moçambique, e uma coisa é certa: os
extremos climáticos e a intensidade desses fenómenos têm tendência para se agravar por todo o mundo,
provocando altos níveis de destruição, perda de vidas humanas e muitos refugiados climáticos à procura de
sobrevivência. Quanto mais emissões de gases com efeito de estufa se lançarem para a atmosfera, mais se
agrava o fenómeno e, quanto mais vulnerável for o território, mais drama se associa a estes fenómenos.
É nestas circunstâncias que Os Verdes não podem deixar de reiterar uma palavra de repúdio pela atitude
dos Estados Unidos da América que, com Donald Trump, se desvincularam do Acordo de Paris, como já tinham
feito, de resto, em relação ao Protocolo de Quioto, quando têm uma enormíssima responsabilidade nas emissões
globais de gases com efeito de estufa, declarando, assim, uma verdadeira guerra ambiental ao mundo.
A verdade é que as alterações climáticas estão aí. Em Portugal, sentimos bem os seus efeitos e, no ano de
2017, por exemplo, sofremos uma das suas consequências devastadoras, consequências agravadas por
vulnerabilidades construídas com políticas erráticas e erradas, que mais olharam aos interesses económicos
imediatos do que à segurança e à sustentabilidade do território.
Efetivamente, ao longo dos anos a floresta em Portugal foi construída à luz dos interesses das celuloses,
expandindo-se vastas e extensas monoculturas de eucalipto, ao mesmo tempo que, muito por responsabilidade
de políticas da União Europeia e de Governos portugueses subservientes a essas políticas, se promoveu o
abandono do mundo rural, da área agrícola e se deixou a floresta apta para arder ferozmente em anos de seca
intensa. Ora aqui está um bom exemplo do que contraria, em toda a linha, uma opção política de adaptação do
território às alterações climáticas, que deve identificar, para reduzir, os fatores de vulnerabilidade no País no
que respeita aos efeitos das alterações climáticas.
Foi justamente por isso que Os Verdes, nesta Legislatura, inscreveram, na posição conjunta que assinaram
com o PS, e trabalharam intensamente para que fosse alterada, a lei da arborização e rearborização — aquela
que ficou conhecida como a «lei da liberalização do eucalipto» —, da responsabilidade de Assunção Cristas e
do Governo PSD/CDS.
Estancar o crescimento continuado das ininterruptas monoculturas de eucalipto era uma decisão que a
sensatez mandava tomar urgentemente. Pela ação de Os Verdes essa decisão foi tomada.
É também por isso que Os Verdes contrariam, desde que foi elaborado, o Plano Nacional de Barragens, que
contém a intenção de construção de barragens que representam praticamente zero para a eletroprodução
nacional e que têm um efeito gravíssimo a nível da perda de biodiversidade e da fragilização do litoral,
contribuindo para a sua erosão, por interferência no transporte de sedimentos pelos nossos rios.
Fez, por isso, bem o Governo quando, também com grande insistência de Os Verdes, decidiu pela não
construção da barragem do Fridão — a qual teria também outras implicações concretas na segurança do
território —, mas fez mal o Governo em não ter travado a construção das albufeiras do Alto Tâmega, tal como
estão definidas.
Na vertente da mitigação das alterações climáticas, é preciso ter consciência de que o setor da energia
assume uma responsabilidade de cerca de 70% das emissões de gases com efeito de estufa, em Portugal.
Dentro deste, o setor da produção e transformação de energia representa cerca de 25%, pelo que a
descarbonização necessária reclama medidas eficazes como, por exemplo, o encerramento urgente das
centrais termoelétricas de Sines e do Pego.
O setor dos transportes é outro que tem uma responsabilidade de peso, também perto dos 25% no que
respeita às emissões de gases com efeito de estufa, pelo que requer uma intervenção estratégica e consequente
que dê resultado na diminuição substancial dessas emissões.
Ora, como se verifica que, entre 1990 e 2016, as emissões de gases com efeito de estufa tiveram um
crescimento de 63%, a pergunta que se coloca é a seguinte: como é possível que os sucessivos Governos do
PSD, do CDS e do PS, ao longo dos anos, tenham contribuído para esta realidade, demonstrando uma
irresponsabilidade efetiva?