6 DE JUNHO DE 2019
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O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, como foi combinado, o tempo utilizado em excesso é descontado no
tempo de debate propriamente dito.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Obrigada pela atenção, Sr. Presidente.
Dizia eu que a mobilidade coletiva, assim como a mobilidade ativa ou suave, são as grandes apostas
estratégicas a construir no presente para garantir um futuro de sustentabilidade.
Sr.as e Srs. Deputados, termino esta intervenção lamentando profundamente que o Sr. Ministro das
Infraestruturas não esteja presente neste Plenário. Gostaríamos de saber a razão dessa ausência, porque
consideramos que essa presença seria imprescindível. É porque o Sr. Ministro veio à Assembleia da República,
na semana passada, pedir desculpas e seria importante que aqui estivesse hoje para que, além desse pedido
de desculpas, apresentasse propostas e medidas concretas sobre matérias que hoje Os Verdes vão colocar e
que dizem respeito concretamente à vida diária das pessoas.
Além disso, é importante dizer o seguinte: enquanto se considerar que as alterações climáticas são apenas
da tutela do ambiente, vamos mal. O combate e a mitigação das alterações climáticas é uma matéria transversal
que toca praticamente todos os ministérios e ministros em função do respetivo setor e da respetiva tutela, pelo
que estes devem vir esclarecer a Assembleia da República, designadamente dar resposta aos pedidos de
esclarecimento dos Deputados.
Sr.as e Srs. Deputados, levamos muito a sério, aqui, na Assembleia da República, não só as questões em
matéria da fiscalização ao Governo mas também em matéria das alterações climáticas, que requer respostas
urgentes, como referimos.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Ainda no período de abertura da interpelação, tem a palavra o Governo, por intermédio
do Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética (João Pedro Matos Fernandes): — Sr. Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados: Sendo hoje o Dia Mundial do Ambiente e estando o Governo próximo de aprovar o
Roteiro da Neutralidade Carbónica para 2050 e o Plano de Adaptação às Alterações Climáticas 2030, perante
esta Câmara o meu discurso de abertura neste debate será necessariamente político mas, da mesma forma,
absolutamente rigoroso em face da ambição que temos de ter, da justiça na transição que procuramos, das
certezas que construímos e, não nego, das dúvidas do processo que nos assaltam.
A democracia não é proclamação, mas argumentação e procurarei explanar os nossos argumentos para a
construção de um modelo económico e social que seja, em simultâneo, hipocarbónico e regenerativo de
recursos.
O clima está a mudar. Na bacia mediterrânica, onde Portugal se insere, isso é muito evidente, nomeadamente
com a redução da precipitação.
Com orgulho, repito que fomos, já há dois anos, o primeiro país no mundo a afirmar o compromisso da
neutralidade carbónica. Mas esta seria, afinal, uma proclamação se não tivéssemos, de seguida, elaborado um
roteiro que confirma este desígnio nas próximas três décadas e, com mais detalhe e sentido do dever, elaborado
um Plano Nacional de Energia e Clima já para a próxima década, alinhado com este princípio de neutralidade.
Para sermos neutros em carbono teremos de reduzir expressivamente as nossas emissões e teremos de
fazer crescer a nossa capacidade de sumidouro.
A discussão da nossa dimensão como pequeno país no mundo das emissões é uma discussão estéril e sem
sentido. O tamanho não conta para nada quando todos temos de assumir a responsabilidade que nos é pedida.
Portugal vai à frente, é verdade, somos exemplo, é verdade, mas não encontramos na sociedade nem no mundo
político, pelo menos ao nível do discurso, quem nos peça que refreemos essa ambição. Pelo contrário. Por isso,
o nosso dever é continuar a liderar esta transformação, assegurando que esta liderança no combate às
alterações climáticas é um fator de prestígio, mas, mais do que isso, é a razão para investir e criar riqueza em
Portugal em prol desse novo modelo económico que prosseguimos.
Sim, a ambição é grande, mas o modelo é realista.