16 DE OUTUBRO DE 2020
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Os custos que o País está a suportar, que correm o risco de aumentar com esta privatização, tornam
imperioso e urgente que o Estado readquira a capacidade e a responsabilidade pela gestão da empresa, para
garantir a sua viabilidade futura e para que volte a ter condições para prestar um serviço que o País, as
populações e os seus trabalhadores exigem.
A recuperação do controlo público dos CTT é um objetivo cuja concretização deve envolver a ponderação de
diversas opções, que vão desde a nacionalização, passando pela aquisição, até à negociação com os acionistas
dos CTT e outras formas que o possam assegurar. Uma opção que seja possível concretizar em tempo útil para
a defesa dos interesses nacionais.
Quando o Governo deixa passar o tempo e agravar-se o problema, quando o PS dá as mãos à direita toda
para, em conjunto, garantirem a proteção da gestão privada e dos interesses que ela representa, é preciso dizer
«basta!» e responder à exigência e à luta dos trabalhadores, que, mais uma vez, hoje, se encontram junto a
esta Assembleia para fazer ouvir a sua voz e os quais daqui saudamos. É tempo de passar das palavras aos
atos, de defender os CTT e o interesse nacional!
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas: O ano de 2020 marca a celebração dos 500 anos dos CTT. São cinco séculos de uma das empresas públicas mais reconhecidas no
País. A sua capilaridade no território e as suas características permitiram criar, ao longo de tanto tempo, uma
rede única de prestação de um serviço postal universal, que, em tantos locais do nosso País, é o único ponto
de contacto com serviços públicos ou com o Estado.
Até 2012, os CTT foram uma empresa pública prestadora de um serviço universal, com altos níveis de
qualidade e representando um elemento de coesão territorial. Entre 2005 e 2012, os correios realizaram mais
de 500 milhões de euros de lucro para o Estado, tendo sido considerado um dos cinco melhores serviços postais
da Europa.
Mas, em 2013-2014, PSD e CDS decidiram vender a empresa a preço de saldo, começando aí problemas
que necessitam de urgente resolução. Com a privatização, Portugal juntou-se a um conjunto ínfimo de quatro
países com o sistema postal totalmente privado. Isto revela-se, ainda hoje, um profundo erro.
Em cinco anos, o serviço postal piorou radicalmente. Neste ano, 2020, a gestão privada chumbou em todos
os indicadores de qualidade. Até novembro de 2018, encerraram 69 estações de correio e, segundo a ANACOM
(Autoridade Nacional de Comunicações), são 33 os concelhos que já não têm estações, prevendo-se que este
número possa subir para 48, o que significa que quase 500 000 habitantes ficarão sem uma estação de correios.
Ao mesmo tempo, tudo aponta para que as estações que vão ser mantidas abertas sejam apenas as que
incluem o Banco CTT. E desta forma se fez um banco comercial privado em instalações dos correios, com
trabalhadores dos correios, com custos de funcionamento pagos pelos CTT, num inaudito processo de
vampirização, que ainda hoje continua: o serviço postal continua a manter o banco, sem qualquer justificação
para que isto aconteça.
Mais ainda, a solução que tem sido apontada no último ano é a da utilização de juntas de freguesia para a
prestação de serviços postais. Esta opção levanta muitas questões. Em primeiro lugar, como é que os CTT
firmam um acordo com a ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias) em setembro de 2020, quando o
contrato de concessão termina em dezembro de 2020? Como é que se garantem as normas de privacidade dos
cidadãos? Porque é que se estão a financiar os CTT, hoje privados, com dinheiro público, quando os CTT
deveriam ser públicos e estar a cumprir este serviço postal universal, que hoje não cumprem? Não se
compreendem estas opções, quando aquilo de que as populações necessitam é da reabertura de estações.
Por outro lado, a forma como a gestão privada tem penalizado os milhares de trabalhadores é significativa,
como, ontem mesmo, tivemos oportunidade de ver: falta de pessoal, falta de condições laborais, tentativa de
implementar medidas como o cartão-refeição unilateralmente, despedimento de precários. O melhor que os CTT
têm são os seus trabalhadores e estes têm sido espezinhados desde a sua privatização, ao mesmo que se
distribuem dividendos acima dos lucros.