I SÉRIE — NÚMERO 14
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Aplausos do PCP.
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — Não é nada disso!
O Sr. João Dias (PCP): — Por isso, não há que esconder ou branquear o grande problema. O problema do desperdício alimentar assenta em duas questões: por um lado, na produção e na falta de escoamento dessa
mesma produção e, por outro lado, na relação dos produtores com a grande distribuição.
Não podemos branquear a responsabilidade que, evidentemente, todos e cada um de nós tem de combater
o desperdício alimentar, mas a grande distribuição, que quer, acima de tudo, lucro económico, está muito pouco
preocupada com o desperdício alimentar, preocupa-se é com os grandes rendimentos.
Por isso, Srs. Deputados, quero lembrar ao PS aquilo que dissemos da tribuna. Tal como fizemos nas
questões relacionadas com o peixe de baixo valor em lota, também o podemos fazer relativamente à pequena
e à média agricultura e à pecuária nacional, criando condições de entendimento e resolvendo esta situação de
uma vez por todas.
Temos centenas de cantinas e refeitórios públicos que podem responder a esta necessidade de escoamento,
ainda mais agravada com a situação da pandemia.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: — Para encerrar este debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real. Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em relação a esta questão, volto a referir o que há pouco mencionámos, isto é, estamos a falar de 1 milhão de toneladas que são anualmente
desperdiçadas.
Se este número não nos convocar para olharmos para o cariz humanitário destas medidas, tendo presente
que, para além de eleitos, também somos cidadãos e que os nossos concidadãos estão a passar por uma
situação socioeconómica bastante complicada, que carece de respostas, mais do que estarmos a levantar
algumas questões que mais não são do que bandeiras políticas ou ideológicas, ao invés de termos assente que
a matéria do combate à pobreza e da erradicação do desperdício alimentar deve ser transversal a todas as
forças políticas, de facto, não estaremos a cumprir o nosso papel.
Protestos da Deputada do PSD Emília Cerqueira.
E, Sr.as e Srs. Deputados, em particular os do PSD, que é o maior partido da oposição e tem um cariz
humanista na sua fundação, de facto, trazer apenas um projeto de resolução, praticamente em vésperas deste
debate, e fazer as críticas que fizeram à proposta do PAN, não nos parece ser um debate suficientemente sério.
Até porque, Sr.ª Deputada Emília Cerqueira, não se pode confundir as coisas. À margem deste debate,
podemos debater, evidentemente, os modelos de produção agrícola, mas não é disso que estamos a falar hoje.
À margem deste debate, podemos falar de modelos de produção agrícola sustentáveis e não superintensivos,
que degradam os solos e põem em causa a nossa alimentação enquanto futuro coletivo, mas não é isso que
estamos a debater. Estamos a debater, sim, o desperdício alimentar e aquele que deve ser, efetivamente, um
combate a algo que não pode continuar a acontecer neste contexto.
Por isso mesmo, e até porque Portugal não é só Lisboa, há modelos no País que são bastante positivos e
contaremos, certamente, com o contributo do Sr. Deputado do CDS para, em sede de especialidade, melhorar
esta proposta. Mas é fundamental que esta Assembleia diga, finalmente, se está ou não disponível para o fazer
com ações concretas, sem continuar a ignorar o problema das filas que aumentam à porta dos bancos
alimentares contra a fome e das associações, porque não existem bens a chegar.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Isso é outra coisa!