I SÉRIE — NÚMERO 14
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câmara, por unanimidade. Portanto, foram três anos de trabalho dedicado a Lisboa em termos de combate ao
desperdício alimentar.
Nesse trabalho, que desenvolvi com gosto, algo que pude reter foi que a autorregulação funciona. Ou seja,
os supermercados, os hotéis, os restaurantes estão disponíveis para fazer doações e as IPPS, as juntas de
freguesia, as organizações religiosas vão, muitas delas, recolher essas refeições e, depois, entregá-las a quem
mais precisa. O sistema funciona.
O que é que o PAN, de alguma forma, naquela que é a sua intenção, nos vem apresentar, colocando-nos as
maiores reservas?
Protestos do Deputado do PCP João Dias.
O Sr. Deputado João Dias está muito incomodado e ainda não percebi porquê.
Sr. Deputado, este é um tema que nos deve unir a todos. Olhe, o PCP, na Câmara Municipal de Lisboa, deu
um bom exemplo: não só participou no Comissariado Municipal Combate ao Desperdício Alimentar, como votou
desde a sua nomeação até ao seu relatório final. Portanto, não percebo, Sr. Deputado, os apartes que está a
tentar fazer, mas muito bem.
Protestos do Deputado do PCP João Dias.
Agora, gostaria de dizer o seguinte: o PAN foi buscar o exemplo da legislação francesa. E porque é que os
franceses adotaram essa legislação de obrigatoriedade? Precisamente porque as instituições, a sociedade civil,
as próprias empresas não tinham a disponibilidade que existe, por exemplo, em Portugal.
Por isso, o CDS entende que esta obrigatoriedade da legislação não faz sentido quando há autorregulação
e há vários stakeholders que trabalham estas matérias. A Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real referiu a Re-food,
que conheço muito bem, mas há muitas outras entidades que combatem o desperdício alimentar na cidade de
Lisboa e por esse País fora. Por exemplo, conheci no País também, em termos de combate ao desperdício
alimentar, projetos interessantes como o da LIPOR (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do
Grande Porto). Doadores não faltam, Sr.ª Deputada, não faltam.
Com a tolerância do Sr. Presidente, gostaria de terminar registando o reconhecimento do trabalho que tem
sido desenvolvido pela ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), um trabalho responsável, que
não fechou instituições, não andou atrás de restaurantes, não andou atrás de hotéis, nem nada disso, mas
sempre os fomentou.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — As próprias Nações Unidas e a FAO reconhecem que Portugal é um exemplo de boas práticas.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Deputado.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Portanto, este é um tema que merece consenso, não é de direita nem é de esquerda, e deve unir-nos a todos.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem mesmo de terminar.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — O apelo que faço, Sr. Presidente, é que o PAN faça baixar a sua proposta à comissão, sem votação, para, em especialidade, podermos acertar um texto comum.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Tem agora palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Ricardo Vicente, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.