16 DE OUTUBRO DE 2020
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explorações agrícolas sem escoamento. Há, no entanto, quem entenda que, com a redução do desperdício
alimentar em 50%, se vai reduzir a fome no mundo. Srs. Deputados, uma coisa é garantida: se nada mudar nos
modelos de produção vigentes e se se continuar a apostar não no desenvolvimento, mas na caridade, então,
certamente, o problema do desperdício alimentar não se resolverá e, antes pelo contrário, irá agravar-se.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para o PCP, discutir o desperdício alimentar e a gestão eficiente dos
alimentos remete-nos para a abordagem das formas de produção e dos setores produtivos. Entendemos que a
agricultura familiar, a pequena e a média agricultura são as que utilizam a forma mais equilibrada de recursos,
quer através de uma vasta diversificação de culturas, quer porque produzem localmente o que é consumido
localmente e, quase sempre, produtos de melhor qualidade, para além do seu potencial fixador de população.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Dias (PCP): — Entendemos que centrar o abastecimento alimentar às populações nos serviços fornecidos pelo setor da grande distribuição, secundarizando e desvalorizando a importância dos circuitos curtos
de proximidade e a relação direta entre os produtores e os consumidores, só vem favorecer a baixa de
rendimentos à produção, não concorrendo para a aplicação de preços justos ao consumidor e deixando fora dos
circuitos curtos de comercialização e do escoamento os pequenos e médios produtores nacionais.
É por isso que o PCP apresenta aqui uma iniciativa, à semelhança do que fez na última Sessão Legislativa.
Foi por proposta do PCP que se conseguiu a Lei n.º 52/2020, de 25 de agosto, que promove o escoamento de
pescado proveniente da pesca local e costeira e prevê a criação de um regime simplificado para aquisição e
fornecimento de pescado de baixo valor em lota. Srs. Deputados, se foi possível criarmos e aprovarmos esta lei
aqui, na Assembleia da República, então, propomos agora a criação de um regime público simplificado para
aquisição e distribuição de bens alimentares provenientes da pequena e média agricultura e da pecuária
nacional, combatendo, assim, o desperdício alimentar.
Entendemos que esta é uma resposta à dificuldade, acrescida com a pandemia, de escoamento da produção
alimentar dos pequenos e médios produtores nacionais e, seguramente, de combate ao desperdício de
alimentos. Combater o desperdício alimentar é fomentar a produção alimentar nacional, é assegurar
rendimentos justos para os pequenos e médios agricultores e para os produtores agropecuários.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva, de Os Verdes, para uma intervenção.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em Portugal, não existe um conhecimento nem rigoroso nem aproximado da realidade concreta do desperdício alimentar nas várias fases
da cadeia alimentar. O estudo que existe, e que se assume, ele próprio, como uma estimativa, resultou do
Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar, publicado em 2012.
O Partido Ecologista «Os Verdes» tem colocado na agenda política a problemática do desperdício alimentar,
apresentando um conjunto de iniciativas parlamentares que resultaram em orientações para o Governo cumprir,
tais como: promover uma gestão eficiente dos alimentos para combater o desperdício alimentar; promover a
participação pública na Estratégia Nacional e Plano de Ação de Combate ao Desperdício Alimentar; e realizar o
diagnóstico sobre o desperdício alimentar.
Porém, passados cinco anos sobre a iniciativa de Os Verdes, que resultou na aprovação da primeira
resolução da Assembleia da República sobre a temática, e volvidos quatro anos sobre a criação da Comissão
Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, ainda não existe um diagnóstico sobre a sua a real dimensão,
em Portugal. O primeiro objetivo estabelecido para esta comissão era o de proceder ao diagnóstico, à avaliação
e à monitorização sobre o desperdício alimentar a nível nacional. Com efeito, essa é uma das tarefas que Os
Verdes consideram urgente concretizar e na qual tem insistido recorrentemente junto do Governo.
De acordo com o Relatório de Progresso da Estratégia Nacional e do Plano de Ação de Combate ao
Desperdício Alimentar de dezembro de 2019, verifica-se que, pesem embora algumas iniciativas tomadas pelo
Instituto Nacional de Estatística e pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral, ainda se está