I SÉRIE — NÚMERO 14
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recuperação económica e social. Ao contrário de outras, esta é uma iniciativa que pretende aumentar a
democracia e transparência para a construção do futuro de Portugal e, por isso, contará com o nosso apoio. O
que esperamos é que os envolvidos não sejam apenas ouvidos. O que desejamos é que os seus contributos
sejam efetivamente incorporados no plano de recuperação.
No entanto, temos algumas reservas em relação à abertura do Governo para a incorporação efetiva desses
contributos, visto que se tem recusado a cumprir disposições legais do Orçamento do Estado, legitimamente
aprovadas neste Parlamento, como é o caso da suspensão da linha circular do metro de Lisboa, medida que vai
ser altamente lesiva para o Estado e, sem dúvida, para as pessoas.
O novo coronavírus permitiu-nos um primeiro vislumbre do que será o nosso futuro se não alterarmos o modo
como lidamos com a natureza.
Para o PAN, na fase de recuperação económica do País, mais do que rejeitar o dogma da produção a todo
o custo temos de ter a coragem de assumir um novo modelo que, rejeitando um sistema produtivista e extrativista
assente no consumismo desmedido, assegure uma economia climaticamente neutra, priorize o investimento no
setor dos bens e serviços ambientais, crie empregos verdes e coloque a justiça social e o bem-estar das pessoas
à frente dos interesses instalados que têm capturado o Estado nas últimas décadas.
Na recuperação económica, o caminho tem de passar pela aposta nas energias renováveis, na eficiência
energética e na redução da nossa pobreza energética. Mesmo que isso não agrade à EDP, é necessário apoiar
a microprodução de energia e o armazenamento de renováveis, dando maior autonomia às famílias e dando a
Portugal a merecida independência energética.
Nos próximos meses, Portugal vai ter de começar a investir não só na abrangência da mobilidade elétrica e
da mobilidade suave mas também no aumento da oferta e da qualidade dos transportes públicos, de modo a
que andar de transporte deixe de ser sinónimo de falta de oferta e de «conserva enlatada».
Teremos a oportunidade de reduzir a dependência das cadeias de produção do exterior e de adaptar a nossa
floresta e a nossa agricultura à nova realidade climática. Isto consegue-se não só com uma nova postura, que
rejeite liminarmente a construção de hotéis de luxo à beira-mar, mas por via da aposta na produção nacional,
na agricultura biológica e na produção local e de proximidade.
Outra das saídas para a crise económica vai ser o aumento do investimento público. Mas é preciso perceber
se esse investimento vai servir para adaptar o território aos efeitos das alterações climáticas, de modo a
minimizarmos, o mais possível, o impacto nas pessoas, e basear-se num atlas de risco das alterações climáticas,
ou se vamos continuar a enterrar dinheiro das pessoas com infraestruturas localizadas em zonas inundáveis,
como é o caso do aeroporto do Montijo.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Bruno Dias, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A necessidade de um debate aprofundado sobre os vários instrumentos de financiamento comunitário que estão em preparação nas instituições da União
Europeia é uma questão com a qual, à partida, em abstrato, toda a gente concordará.
À partida, quando falamos da necessidade de fazer um planeamento estratégico com os contributos das
várias instituições, a dúvida que fica é sobre se alguém discorda de que isso seja útil, necessário, positivo.
E a primeira pergunta que importa fazer neste debate é esta: que consequências é que se considera ou
define que devem ter essas participações e esses contributos? Eu pergunto mais: que espaço, que abertura, no
próprio processo de decisão política a nível da União Europeia, é deixado para esse debate consequente ou,
melhor dito, para a própria aplicação das insuficiências, dos erros, do ataque à soberania nacional que lá, a
montante, em Bruxelas, se está a apontar relativamente a estes instrumentos, em termos de financiamento
comunitário?
Quando temos um processo de debate, todo ele, desenvolvido nas costas dos cidadãos, mais agora do que
antes, porque abarca a situação ainda mais perversa de se promover, do ponto de vista propagandístico, toda
uma linha de comunicação assente na ideia de que agora é que esta Europa está a ouvir as pessoas, de que
agora é que esta Europa está a governar com as pessoas — e, Srs. Deputados, isso é completamente falso,
porque aquilo que está a ser discutido, aquilo que está a ser preparado, aquilo que está a ser imposto segue,
efetivamente, uma lógica de subordinação supranacional, em que nos dizem em que áreas de concentração