I SÉRIE — NÚMERO 43
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Determo-nos na argumentação da liberdade individual é, na minha opinião, uma falácia. No texto final existem
validações e existem terceiros envolvidos para praticarem a eutanásia, isto é, médicos que avaliarão as
condições para a morte assistida. Se a liberdade fosse o verdadeiro ímpeto destes projetos, não seriam projetos
de «liberdade q.b.». A presença de uma validação externa da vontade do doente só reflete que não é admissível
que uma pessoa possa exigir ao Estado que a mate. O argumento da liberdade é falível e não se verifica, tendo
em conta todo o processo e exigências para que a morte assistida tenha lugar.
Esta minha posição não é moralista ou conservadora, mas fundada em reservas e dúvidas significativas
sobre o que está a Assembleia da República a legislar para o futuro da nossa sociedade.
Uma sociedade que promove a igualdade de oportunidades não é uma sociedade em que o acesso a
cuidados paliativos é dado apenas a 30% da população. Não é uma sociedade em que as camas e as equipas
comunitárias de cuidados paliativos ficam muito aquém das recomendações internacionais, e também muito
longe de cumprir o próprio Programa Nacional de Cuidados Paliativos. Uma sociedade que promove a igualdade
de oportunidades — aquela em que eu acredito — é uma sociedade que promove em todo o nosso território, do
Norte ao Sul e nas regiões autónomas, o acesso a cuidados dignos em fim de vida, independentemente do
prestador ser público, privado ou instituições particulares de solidariedade social, mas que sejam universais e
tendencialmente gratuitos. Infelizmente, esta não é a realidade em Portugal.
Sou contra a distanásia e a obstinação terapêutica, e reconheço a boa prática da medicina que é a decisão
clínica centrada no doente. A decisão tomada entre o médico e o doente, tendo o médico a obrigação de informar
e esclarecer o doente, de forma isenta, sobre todas as opções que estão disponíveis, representa aquela que é
uma das mais ricas armas terapêuticas da medicina: a relação médico-doente. Uma relação de profunda
confiança mútua e de um profundo respeito pelos direitos dos doentes. Como o direito, consagrado na lei
portuguesa, de qualquer doente recusar medidas invasivas, terapêuticas que considere intoleráveis ou qualquer
medida que, alegadamente, prolongue a sua vida.
Assim sendo, votei contra o texto final relativo aos projetos de lei para a despenalização da eutanásia.
Assembleia da República, 1 de fevereiro de 2021.
O Deputado do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata, Alexandre Poço.
——
Voto contra a eutanásia em conformidade com a liberdade de voto conferida pela direção do meu Grupo
Parlamentar.
Em legislaturas passadas foi possível travar este impulso legislativo, mesmo com elevadas discussões ao
nível interno de cada grupo parlamentar e com elevada participação da sociedade civil e da comunidade
científica. Mesmo em tempos de dita «normalidade» o Parlamento entendeu, no passado, não viabilizar a
eutanásia.
Hoje, ao invés do atrás referido, com menos discussão pública e mais ausência de debate ao nível interno
dos grupos parlamentares (presenciado, lido ou visto também na comunicação social) e em tempos anormais
de uma pandemia, que há cerca de um ano nos mobilizou a todos para salvar vidas, eis que se aprova a
eutanásia!
Também os Portugueses não ouviram nem conhecem o essencial sobre o tema, tendo sido impedidos de se
pronunciarem sobre o assunto, porque o Parlamento anteriormente não viabilizou o referendo solicitado por
iniciativa dos cidadãos. São diversas as opiniões, de alguns contra e de outros a favor que, unanimemente,
defendem que foi errado o momento escolhido para aprovação da lei.
Nunca houve urgência nesta matéria, nem clamor social, muito menos em ambiente de drama provocado
pela COVID-19, onde todos os esforços têm sido feitos para salvar vidas, onde todos — Estado, organizações
e pessoas — mobilizam meios e reorganizam serviços para uma solidariedade mundial.
Assim, neste contexto de uma pandemia mortífera que tem motivado os maiores esforços e sacrifícios para
salvar o maior número de vidas possível, o Grupo Parlamentar do PSD solicitou o adiamento da votação final
global, mas sem sucesso, por falta de concordância da maioria dos grupos parlamentares, à exceção do CDS-
PP.