12 DE FEVEREIRO DE 2021
5
Tínhamos bons exemplos internacionais que podíamos e devíamos ter acompanhado, como o da Nova
Zelândia, que tomou medidas firmes, envolveu a comunidade e equilibrou os setores sociais e da saúde.
Também não faltaram aqui propostas, de diferentes forças políticas, onde se inclui o PAN, sustentadas em
evidência científica, mas que nunca, ou tarde, foram ouvidas.
Chegámos aqui e a sensação que nos fica é que tudo o que agora é obrigatório já o tínhamos dito há meses,
seja o reforço dos profissionais de saúde, o encerramento das escolas, a testagem massiva da população,
incluindo a pessoas sem sintomas, ou o controlo das fronteiras. Tantos meses para se fazer o que já podia ter
sido feito, e mais ainda, para evitar o que podia ter sido evitado.
Acreditamos que a falta de consenso entre os especialistas e o surgimento de tantos fazedores de opinião
pública não facilitaram este processo. Mas há coisas que são muito claras e a obstinação do Governo em
manipular os dados é uma delas.
Veja-se a falta de transparência em relação aos casos de infeções em contexto escolar:
incompreensivelmente, enquanto o Ministério da Educação indica 9000 casos positivos desde o início do ano
letivo, a Direção-Geral da Saúde indica a existência de 50 000 no mesmo período. O próprio sindicato veio já
apresentar números bem diferentes dos do Governo, tendo, inclusive, recorrido ao Tribunal Administrativo de
Lisboa para que o Ministério da Educação viesse dizer onde é que, afinal, existiam casos de COVID-19 nas
escolas.
O presente Relatório afirma também que as unidades especializadas integradas nos centros de apoio à
aprendizagem estiveram em funcionamento, mas não refere as diversas situações de crianças que não tiveram
os apoios especializados de que necessitavam e dos quais o Governo teve pleno conhecimento.
Este Relatório, que, por exemplo, reduz as questões ambientais aos serviços essenciais de águas e resíduos,
omite também o novo flagelo ambiental, que é o descarte indevido de máscaras ou de outros EPI (equipamentos
de proteção individual), um problema que, como sabemos, se vai agravar ainda mais e que tem de constar dos
próximos relatórios, sendo urgente a criação de um sistema nacional de devolução, inclusive remunerada, de
máscaras descartáveis usadas e de outros mecanismos de proteção, tal como o PAN já aqui propôs.
Este Relatório, apesar de nos mostrar o cenário negro que o setor da cultura atravessa, também omite, por
exemplo, dados relativos à atividade cultural fora do setor público, ou o panorama de outras estruturas ou
equipamentos culturais como é o caso de escolas de dança, cinemas ou cineteatros.
Entre muitos outros exemplos de necessidades de apoio que são aqui omitidas, veja-se a omissão em relação
ao apoio à população mais idosa ou isolada.
Não se resolvem as crises sanitárias com omissão de dados e com falta de transparência junto das
instituições e das comunidades. Estas opções políticas só geram desconfiança e descredibilizam o Governo.
Hoje sabemos, por exemplo, que o gradualismo defendido pelo Governo quanto às escolas foi um erro. Está
na altura de passarmos à frente do vírus e, em vez de andarmos a correr atrás dele e do prejuízo, convém, pelo
menos, acompanhá-lo e termos um plano de combate eficaz.
Não falta informação. Não falta experiência. Falta assumir a realidade e não cometer os mesmos erros do
passado. É isso que esperamos daqui para a frente e é isso que ao Governo se exige.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Gonçalves Pereira, do CDS-
PP.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Secretários de Estado,
Sr.as e Srs. Deputados: Ao fim de quase um ano de pandemia vivemos um dos períodos mais negros da nossa
história democrática.
Estado de emergência após estado de emergência, o conflito entre a responsabilidade de aprovar novas
medidas e o dever de não relativizar a suspensão de direitos, liberdades e garantias cresce, dia após dia.
Não entender a gravidade do momento e negar a sua excecionalidade seria irresponsável. Esquecer que a
emergência não deve tornar-se normal não seria melhor.
Manter o escrutínio atento e a preocupação constante é um dos deveres deste mesmo Parlamento. De cada
vez que o Grupo Parlamentar do CDS apoia uma renovação de estado de emergência procura fazê-lo nesse
sentido e hoje não será diferente.