1 DE ABRIL DE 2021
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O Sr. João Moura (PSD): — Srs. Deputados, os ecologistas a sério, aqueles que são amigos da natureza,
que são rigorosos, têm no seu pensamento uma base científica.
A questão que se coloca é a seguinte: quando o PAN é fundamentalista quanto ao consumo de carne, é-o
com uma base científica? Fala com parâmetros científicos ou com base em objetivos nas suas crenças? Creio
que o PAN o faz por ideologia.
Se somos humanos, a nossa natureza é omnívora, é de comer carne, é de comer proteína. Bem sei que
alguns optam por não o fazer, optam por proteína vegetal ou proteína sintética. Mas, Sr.ª Deputada, qual é a
alternativa que temos? É o consumo da proteína da soja, com produção intensiva, no Brasil, em que se destrói
a floresta amazónica?
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. João Moura (PSD): — Ou é, por exemplo, como faz Singapura com frangos sintéticos, através de uma
proteína criada em laboratório?
Sr.ª Deputada, aquilo que queremos aqui dizer é que o PAN não pode converter o mundo rural na sua
Disneyland agroecológica. Não pode tentar condicionar a produção e as explorações animais.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra, para um pedido de esclarecimento, o Sr. Deputado
João Dias, do PCP.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, de
facto, falou-nos da importância do acesso a um planeta vivo. Partilhamos da preocupação que aqui nos trouxe
acerca dos problemas ambientais provocados pela intensificação das explorações animais, mas não
esperávamos que o PAN se preocupasse, coisa que nunca fez, com a agricultura familiar, com as pequenas
explorações, principalmente com aqueles que são, de facto, os principais jardineiros do planeta, que são os
pequenos agricultores e a agricultura familiar.
A Sr.ª Deputada tem a perfeita noção de que não defende a pequena exploração. Aliás, diaboliza quem tem
10, 15 ou 20 cabeças de gado, que contribui para a fixação da população no território, e não valoriza, nem
compreende, a importância da exploração pecuária.
Sr.ª Deputada, garanto-lhe que os pequenos produtores pecuários precisam de estar todos os dias na sua
exploração. Seja sábado, domingo, feriado ou dias de festa, eles têm de lá estar todos os dias a cuidar e a olhar
pelas suas explorações. E são estas explorações que criam emprego, que criam postos de trabalho, que fixam
a população, que ocupam território e que previnem os grandes incêndios.
Nesse sentido, saiba, Sr.ª Deputada, que por cada pequena exploração que encerra — e que o PAN não
defende — é mais uma grande exploração que absorve esse mercado.
Ainda nesse sentido, queria partilhar outra grande preocupação, quanto ao défice alimentar. Tem V. Ex.ª a
noção de quanto representam mais de 1000 milhões de euros de importação em termos de impacto ambiental,
em termos de impacto na economia, na produção nacional? Tem a Sr.ª Deputada essa preocupação, em termos
dos problemas ambientais, ou terá a ideia de que só as nossas vacas, o nosso gado, é que produzem gases de
efeito de estufa e de que os outros, criados noutros países, são elétricos e não produzem gases de efeito de
estufa?! Não, Sr.ª Deputada…
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Peço-lhe para terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Dias (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
Pergunto-lhe, Sr.ª Deputada, se acompanha a ideia, partilhada pelo Sr. Ministro do Ambiente, de que é mais
barato comprar lá fora do que produzir cá.
E, já agora, gostaria de valorizar o importante papel dos técnicos da DGAV (Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária), que defendem o bem-estar e a sanidade animal, e, sobretudo a saúde pública.