1 DE OUTUBRO DE 2021
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O SICAD tem já uma obra significativa nesta área, seja na elaboração de linhas orientadoras para
intervenção, seja na avaliação intermédia do Plano Nacional para a Redução dos Comportamentos Aditivos e
das Dependências, onde é já evidenciado que os objetivos fixados não foram cumpridos, bem pelo contrário.
Esta mesma avaliação constatou o agravamento da situação de comportamento aditivo, nomeadamente na
população feminina. Ou seja, o Governo dispõe já de muitos estudos e avaliações sobre o tema do impacto do
vício do jogo online na vida das pessoas. E que faz o Governo perante isto, perante esta realidade? Lança ele
próprio uma raspadinha para financiar a recuperação do património!
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Parece brincadeira, mas não é! Perante todos os sinais de alerta
relativamente à raspadinha e aos seus impactos no aumento dos comportamentos aditivos, nomeadamente em
segmentos mais vulneráveis da população — segundo a Santa Casa da Misericórdia, 76,6% dos jogadores da
raspadinha são da classe média baixa e baixa —, o Governo cria mais uma raspadinha!
Em vez de investir em meios e recursos na recuperação dos viciados, o Governo toma uma medida que
objetivamente vai aumentar o número de viciados. Isto só é mesmo possível vindo de um Governo que mais
não pensa do que em rapar dinheiro em tudo o que seja possível e em criar receita mesmo se coloca em risco
a saúde mental dos portugueses. É lamentável e indigno.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, como se pode ver e comprovar os
problemas vão muito além da alteração ao Código da Publicidade e não devemos colocar apenas neste
particular a resolução destes problemas tão grandes e complexos.
O PSD entende que se deve ir muito além do Código da Publicidade pois não é proibindo a publicidade das
7 horas às 22 horas que se combatem os problemas causados pelo aumento do jogo abusivo e dos
comportamentos aditivos.
Pode ajudar, mas não é, com certeza, a resposta única. Esta passa por uma intervenção mais vasta na
prevenção e pela aposta no reforço de meios na saúde mental.
O Orçamento está à porta e é aí que isto se pode jogar, não online mas com os recursos devidos e previstos
na estratégia de combate a estes problemas, com coerência e com a ajuda das boas práticas internacionais
nesta área.
Este é o caminho que importa fazer. O resto é fazer de conta.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Pacheco, do Grupo
Parlamentar do PS.
O Sr. Filipe Pacheco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos hoje o jogo e a publicidade
ao jogo e apostas, mas para o Grupo Parlamentar do Partido Socialista essa publicidade deve ser feita de forma
socialmente responsável, respeitando e protegendo grupos vulneráveis e de risco, como os menores e as
pessoas com comportamentos aditivos, não apelando nunca à ilusão de ganhos fáceis ou encorajando o jogo.
Contudo, se é verdade que vários projetos que estão em discussão procuram responder a algumas destas
preocupações, também é verdade que o fazem confundindo conceitos e, muitas vezes, podem ter um impacto
que pode ser o oposto daquilo que pretendem resolver, ao não reconhecer que esta matéria deve ser objeto de
profunda reflexão e é bastante delicada.
Em primeiro lugar, é importante lembrar que, em Portugal, o jogo é uma atividade reservada ao Estado, a
quem cabe definir os jogos autorizados, o respetivo regime de exploração e a sua regulamentação.
E é também importante lembrar que isso é bom! É bom que exista uma oferta de jogos legal, para que a
prática seja controlada e segura, evitando que a procura se canalize para ofertas de jogo ilegal, que, essas sim,
não têm restrições nem são controláveis. E muitas delas são publicitadas online.