9 DE OUTUBRO DE 2021
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Esta perspetiva implica, também, reconhecer que, na sua dimensão humana, o fim de uma vida é,
primeiramente, uma ocorrência privada causadora de luto nos entes mais próximos, o qual não se deve
perturbar com considerações políticas.
Contudo, a apresentação de votos de pesar na Assembleia da República e a sua votação por parte dos
Deputados que representam o povo português confere, inevitavelmente, uma dimensão política que não se
deve ignorar, sob pena de se desvalorizar o mandato recebido dos eleitores. Em certos casos, como o de
Otelo Saraiva de Carvalho, esta dimensão torna-se impossível de desconsiderar, até porque certas forças
partidárias fizeram um aproveitamento político do falecimento da personalidade em questão, recorrendo,
inclusivamente, a uma reescrita seletiva da História.
A vida preenchida e multifacetada de Otelo Saraiva de Carvalho fica marcada por dois momentos
definidores. Por um lado, o seu papel essencial na preparação e execução da Revolução de 25 de Abril, que
derrubou a ditadura e que merece o reconhecimento de todos os democratas; por outro lado, a sua
participação ativa na fundação e nas atividades terroristas das denominadas FP-25, que causaram a morte de
13 pessoas na década de 80 e que só pode merecer a clara condenação desses mesmos democratas. Quanto
a estes dois momentos, a verdade é que Otelo Saraiva se arrependeu publicamente de ter participado no 25
de Abril, mas nunca se retratou do seu papel nas atrocidades praticadas pelas FP-25.
É, pois, o balanço de vida feito pelo próprio, em que é renegado o ato libertador mas não os crimes de
sangue, que determinou a decisão eminentemente política do Iniciativa Liberal de, pela primeira vez, votar
contra um voto de pesar.
Palácio de São Bento, 29 de setembro de 2021.
O Deputado do IL, João Cotrim de Figueiredo.
[Recebida na Divisão de Redação em 13 de outubro de 2021].
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Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO.