22 DE OUTUBRO DE 2021
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O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de lei do PAN, tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Silva.
O Sr. Nelson Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 aponta como potencial de redução de emissões em 2030 no setor dos transportes entre 43%
a 46%, face a 2005, e afirma, e passo a citar, que «A descarbonização do setor dos transportes será
alicerçada fundamentalmente no reforço do papel do sistema de transporte público e na substituição dos
atuais veículos a combustíveis fósseis por uma frota essencialmente elétrica».
A necessidade e urgência da descarbonização do setor dos transportes tem como solução, em grande
medida, e conforme salientado no Roteiro de Neutralidade Carbónica para 2050, a aposta no aumento da
utilização dos transportes coletivos.
Os dois programas que apreciamos pretendem, precisamente, atrair pessoas para o uso do transporte
coletivo em detrimento do transporte particular.
O PART, ao permitir a redução do preço de utilização dos transportes coletivos, constitui um incentivo ao
seu uso. Contudo, o País necessita de tornar o uso de transportes coletivos mais atrativo, através do aumento
da oferta e melhoria da qualidade e intermodalidade, objetivo a que o PROTransP pretende responder.
Para que os objetivos de descarbonização do setor sejam efetivamente ambiciosos e alcançados já em
2030 é fundamental, nesta fase, avaliar os resultados do PART e do PROTransP, de forma a que se possa
saber como melhorar ambos os programas e alcançar os objetivos de reforço do uso de transportes coletivos e
redução do uso de transportes privados.
Em função da avaliação efetuada, o Governo deverá propor à Assembleia da República a adoção de
medidas devidamente fundamentadas que permitam reforçar e aumentar a eficácia dos programas PART e
PROTransP.
Estamos a menos de sete anos do ponto de não retorno da estabilidade climática do nosso planeta. O setor
dos transportes representa 25% dos gases com efeito de estufa. Não podemos continuar a fazer de conta que
apostamos na descarbonização deste setor sem fazer uma aposta grande e efetiva nos transportes coletivos,
para que as pessoas sintam que têm efetivamente condições para abandonar o transporte particular.
E fazer de conta é o lema deste Governo. Num momento em que temos de ser cada vez mais ambiciosos
na ação climática e em que ouvimos o Sr. Primeiro-Ministro defender a descarbonização por aí fora, o que fez
o Governo no Orçamento do Estado para 2022? Baixou as verbas dedicadas ao PART e ao PROTransP em
140 milhões de euros, face a 2021, ou seja, reduziu em mais de 40% as verbas dedicadas à aposta nos
transportes coletivos em Portugal. Já para subsidiar o uso de produtos petrolíferos e as empresas elétricas, o
Governo continua a usar centenas de milhões de euros dos contribuintes.
Sr.as e Srs. Deputados, sim, temos um Governo especialista em lavagem verde em Portugal, um Governo
que diz que a ação climática é uma prioridade e que faz precisamente o contrário. E isto não pode continuar
assim. O investimento nos transportes públicos é essencial para uma efetiva descarbonização e mitigação das
alterações climáticas e o PAN continuará a exigir estes compromissos para o bem do futuro do País e para o
nosso futuro neste planeta.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, pelo CDS-PP, o Sr. Deputado João Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: As iniciativas que hoje o PCP e o PAN aqui nos trazem, referentes ao Programa de Apoio à Redução Tarifária, têm objetivos
diferentes e merecem, da nossa parte, também análises diferentes.
Começo pelo projeto do PAN, que é mais simples, uma avaliação da aplicação deste tipo de programas,
não só do PART, mas também do PROTransP e das suas consequências. Até porque essa aplicação tem sido
assimétrica, não é igual em todas as regiões do País, e também não podia ser porque — e é importante dizer-
se — a realidade do transporte público é muito assimétrica ao longo do território nacional e o facto de termos
uma grande concentração de população nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto faz com que, às
vezes, haja uma ideia no País de que a realidade do transporte público é aquela que existe em Lisboa e no