I SÉRIE — NÚMERO 36
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e nenhuma mulher podem ficar indiferentes à crueldade e à devastação que nos chegam de Kiev, Kharkiv,
Dnipro, Donetsk, Mariupol e tantas outras cidades da Ucrânia.
No dia em que as Forças Armadas da Federação Russa começaram a atacar a Ucrânia em múltiplas
frentes, o nosso coração também foi atingido. A agressão e os bombardeamentos bárbaros voltaram à Europa
para satisfazerem a ambição de um homem isolado, que semeia o medo à sua volta e é a personificação do
mal.
Milhares de pessoas já morreram e milhões deixaram de sonhar, perderam tudo e fogem do fogo e do
sofrimento: jovens mães, que amparam os estilhaços dos projéteis quando deveriam estar a dar o beijo de
boas-vindas ao seu filho que acabou de nascer; crianças, que deveriam estar na escola e que cambaleiam
durante quilómetros para fugirem às explosões; adultos e anciãos, que têm de atravessar um rio por uma
nesga de ponte improvisada e que já não querem saber do futuro, querem apenas saltar por cima de um
intervalo de tempo, de um inferno que lhes caiu em cima. É uma guerra disfarçada de operação militar
especial, movida por uma narrativa falsa, difamatória e cruel. É a invasão de um Estado soberano e
independente, que procurava cimentar a sua democracia, e que vem atentar contra todos os princípios que
norteiam a convivência política e pacífica entre os estados e as nações, numa violação grosseira do direito
internacional, da Carta das Nações Unidas, da Constituição russa e, obviamente, da própria Constituição
ucraniana.
Perante o avanço da máquina de guerra russa, a Europa, o Reino Unido, os Estados Unidos e todo o
mundo livre deram uma resposta concertada. A Comissão Europeia avançou com pacotes de sanções que
são, historicamente, inéditos.
Sabemos, no entanto, que os antibióticos podem produzir efeitos secundários graves — aliás, o Sr.
Primeiro-Ministro falou mesmo em efeito de ricochete. No plano energético, era expectável uma escalada de
preços e, em relação aos combustíveis, não basta o Primeiro-Ministro dizer que dá um crédito na
compensação do abastecimento. É preciso que o Governo cumpra a palavra e, se a cotação do crude dispara
para valores insuportáveis, então, o Governo tem o dever de baixar o ISP (imposto sobre os produtos
petrolíferos e energéticos) em igual proporção. Não bastam migalhas, esmolas ou cêntimos.
Mais do que isso, quero lembrar a esta Câmara que o problema do preço dos combustíveis já é anterior à
guerra na Ucrânia. A pandemia deixou a economia de rastos e a guerra na Ucrânia irá derreter ainda mais o
poder de compra das famílias, a que se juntam a inflação, a subida das taxas de juro, os custos da energia e
dos bens alimentares.
Pergunto, Sr. Ministro: que plano tem o Governo? Quais as soluções para acautelar estes sacrifícios que
estão a recair sobre todos os portugueses? Tem o Governo em vista o ajustamento dos fundos do PRR (Plano
de Recuperação e Resiliência) perante esta trajetória de crise energética e de mudança de fontes de
abastecimento?
Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, a Europa e o Ocidente não podiam limitar-se a assistir
à guerra pelas redes sociais ou pela televisão. Infelizmente, desde as crises de petróleo dos anos 70, a União
Europeia negligenciou a sua segurança no abastecimento e só em 2030 irá libertar-se na totalidade dos
combustíveis fósseis da Rússia. Iremos financiar, durante mais sete anos e meio, a máquina de guerra russa
com a compra de gás?! Se a pandemia nos mostrou a fragilidade industrial da União Europeia perante a
China, esta guerra expõe a dependência da Europa face às exportações dos combustíveis pela Rússia.
Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, a guerra pode ser prolongada e, dia após dia, ser
ainda mais terrível, e o pior sinal disso é quando as notícias de conflito se banalizam. E se o pior ainda estiver
para vir? Como irão a União Europeia e Portugal reagir se as Forças Armadas russas vierem a recorrer a
armas químicas ou a práticas contínuas, genocidas, de matança selvagem de civis e de militares?
A Rússia não atacou só a Ucrânia, também se atacou a si própria e atacou, sobretudo, o mundo ocidental
dos valores humanistas.
Saúdo a iniciativa do Procurador do Tribunal Penal Internacional em abrir um inquérito às ações de Putin.
Saúdo todos os Estados e povos europeus que estão a ser generosos no acolhimento dos refugiados.
Finalmente, presto a minha homenagem ao povo ucraniano, ao Presidente Zelensky, ao povo russo — que
não deve ser confundido com a sua elite política — e a todos aqueles que estão a bater-se, não apenas por
ideais, mas, sobretudo, pelo nosso futuro.
Glória à Ucrânia!