9 DE JULHO DE 2022
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Mas o «aspirador patronal», que passou pela proposta original e que a desfigurou, fez outras limpezas. Foram
10 alterações. Por exemplo: a proposta original, de outubro, publicada no Boletim do Trabalho e Emprego, tinha
uma moratória à caducidade das convenções coletivas, à caducidade dos contratos coletivos de trabalho. O que
é que aconteceu a essa moratória? Está nesta proposta? Não está, caiu, desapareceu!
A proposta original tinha a exigência de transparência dos custos do trabalho. Lembra-se dessa norma, Sr.ª
Ministra? É uma norma que visa que as empresas que se candidatam, em processos de outsourcing, a prestar
serviços têm de dizer qual é a sua estrutura de custos, para sabermos se elas estão a fazer dumping ou não.
Era uma proposta boa, excelente, que estava na proposta original — artigo 419.º da proposta original —, uma
proposta essencial, por exemplo, para os contratos de limpezas e vigilância. O que é que aconteceu? Essa
proposta desapareceu. Desapareceu! Estava na proposta original, mas não está naquela que foi entregue.
Em terceiro lugar, desapareceu também — a Sr.ª Ministra falou ali de cima do Código dos Contratos Públicos
— a exigência de contratos estáveis às empresas com as quais o Estado faz contratos. Sumiu da proposta!
Estava lá uma proposta positiva, mas sumiu da proposta!
Pergunto-lhe, Sr.ª Ministra: para quê estas alterações e estes recuos em toda a linha? Quem é que exigiu
estes recuos? A que lobbies é que o Governo cedeu?
E pergunto também ao Partido Socialista se está disposto a regressar à proposta original, que o Governo
desfigurou.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do
Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, queria começar por perguntar-lhe qual é a
explicação que tem para o facto de nem um único sindicato nem uma única confederação patronal terem apoiado
esta Agenda do Trabalho Digno.
Protestos do Deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro.
É verdade, é! Um partido e um Governo que tinham dito que queriam tanto a concertação social não
conseguiram convencer um sindicado ou uma confederação económica de patronato.
Portanto, qual é a razão para o terem feito, sem qualquer acordo e de nenhuma forma?
Mas há algo que vai mais profundo do que a Agenda do Trabalho Digno anunciada pelo Governo: é que o
Governo apresenta esta agenda de transformação da lei laboral quando ainda não aplicou as alterações que fez
em 2019. É um pouco incongruente da sua parte vir aqui trazer novas alterações à lei laboral quando ainda nem
as outras fez.
Portanto, o País pergunta-se: qual é a razão que temos para acreditar em si e no seu Governo? Vou dar-lhe
um exemplo: a taxa de rotatividade. Onde é que está? Onde é que está a taxa de rotatividade? Sabem onde é
que está? Não está em lado nenhum porque não existe, mas foi aprovada pela maioria socialista.
Sr.ª Ministra, temos de começar a olhar para isto com seriedade, não é simplesmente anunciar medidas que
sabemos que nunca vão entrar em vigor. Depois, estamos a enganar os portugueses com nomes pomposos —
Agenda do Trabalho Digno, melhorias para a década, década 2030, coisas que as pessoas gostam de ouvir
mas que, depois, nunca entram em vigor.
Era importante, talvez, começar por esclarecer isto: porque é que não convenceu ninguém — ninguém, na
esfera social! — de que isto é uma Agenda do Trabalho Digno e porque é que ainda nem sequer fez as alterações
e a entrada em vigor de diplomas de 2019? E já lhe dei o exemplo da taxa de rotatividade.
Depois, pergunto-lhe se viu este jornal, ontem.
O orador exibiu a capa do Jornal Negócios.
Está aqui a Sr.ª Ministra na capa do jornal. Está a ver? Às vezes acontece! Está aqui!