6 DE OUTUBRO DE 2023
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, termino.
É de um primarismo absurdo acharem que ensinar às crianças que também há momentos para desligar o
telemóvel e perceber que isso tem benefícios na sua vida tem alguma motivação que não a de querer recreios
mais saudáveis, e é isso que nós aqui propomos. Não queremos é esperar por estudos que nos venham dizer
aquilo que já sabemos hoje.
Aplausos do BE.
Protestos do CH e contraprotestos do Deputado do BE Pedro Filipe Soares.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Passamos ao quarto ponto da nossa ordem do dia, que consiste na
apreciação dos Projetos de Resolução n.os 591/XV/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo que continue o caminho
e processo de deslocalização de entidades e serviços públicos, 483/XV/1.ª (PSD) — Recomenda ao Governo
que atualize os valores das ajudas de custo e transporte ao pessoal da administração pública, 901/XV/2.ª (PSD)
— Recomenda ao Governo que instale os novos serviços da administração central no interior e crie um programa
de deslocalização progressiva de serviços públicos para estes territórios, 904/XV/2.ª (PAN) — Recomenda ao
Governo que aprove um plano nacional de descentralização e desconcentração territorial de serviços públicos
e reforce os direitos laborais dos trabalhadores de serviços públicos deslocalizados, e 910/XV/2.ª (PCP) —
Recomenda ao Governo que proceda à reabertura dos serviços públicos encerrados nos territórios do interior
do País ou de baixa densidade populacional.
Para apresentar a iniciativa do PS, tem a palavra o Sr. Deputado Sobrinho Teixeira.
O Sr. Sobrinho Teixeira (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Tenho hoje a satisfação de apresentar o
Projeto de Resolução n.º 591/XV/1.ª, do PS, que recomenda ao Governo que continue o caminho e o processo
de deslocalização de entidades e serviços públicos.
Este debate traz à discussão a problemática mais global do desenvolvimento do interior. Gostaria de vos
referir que, da minha vivência de muitos anos no interior, posso afirmar que o seu maior problema é a redução
demográfica, que justificará em si os outros problemas, nomeadamente o injustificável fecho de serviços ou a
perda de competitividade dos territórios.
A redução demográfica resultou, essencialmente, do fluxo de pessoas do interior para o litoral, devido à falta
de oportunidades de emprego e ao desinvestimento do País no seu todo.
A questão é tão antiga que gostava de citar aqui a intervenção do Deputado brigantino Pires Vilar, na sessão
de 23 de fevereiro de 1880, dirigindo-se ao então Ministro das Obras Públicas, a propósito do desinvestimento
no distrito de Bragança: «[…] O maior terror que pode inspirar-se a um funcionário qualquer, civil ou militar, é
ameaçá-lo com uma transferência para Bragança. Supõe-se que Bragança é a Sibéria, e o seu distrito um país
inóspito e miserável, sem a importância necessária para que o Estado faça em seu favor qualquer sacrifício,
reservando-se, todavia, o direito de o compelir a toda a casta de sacrifícios para o bem comum, de que pouco
participa.»
Felizmente, o País evoluiu e as condições, a qualidade de vida e a relação entre qualidade e custo de vida
alteraram-se substancialmente nas regiões do interior, de modo que, hoje, muito mais do que a atratividade dos
territórios, a questão que se coloca para o desenvolvimento do interior são estímulos à economia que gerem
criação de emprego permitindo fixar nesses territórios todos os que desejem lá viver.
Bragança já não é a Sibéria, nem o seu distrito um país inóspito, e o nosso interior, podendo ser uma região
ainda com dificuldades, é sobretudo uma região de oportunidades.
Aplausos do PS.
É, assim, importante desmistificar a perceção, essencialmente baseada na ignorância, de que as pessoas
não querem ir para o interior. Deixem-me que dê alguns exemplos que contrariam essa perceção. Com exceção
da área de medicina, transversal ao País, não me recordo de qualquer concurso aberto pela administração